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Trabalho escravo

Postado por Vanessa Rodriguesem 1 de Março de 2010
trabescravo

Foto: Leonardo Sakamoto-Repórter Brasil/Divulgação

Comem ração de animal, dormem ao relento, são torturados, cortam-lhes os dedos, matam-nos e estão sempre a dever a quem os contratou. Conhecem bem a cor do sangue, esquecem-se que a água não tem cor e habituam-se a bebê-la amarela, terrosa, contaminada. Não são nada, não são gente. Até chegam a pensar que tudo isso faz sentido, neste século, neste agora, num Brasil de contrastes.

A Amazónia tem mais de metade dos casos de trabalho escravo no Brasil. Dos 164 casos enumerados, recentemente, pelo ministério do trabalho brasileiro, 100 deles (61%) ocorreram em estados que pertencem à Amazónia Legal.

O local com mais problemas é o Pará (46 casos), seguido do Maranhão (22 casos) – ambos da Amazónia – e Mato Grosso do Sul (18 casos).

Segundo pesquisa da ONG Repórter Brasil, especializada no combate ao trabalho escravo, quase todos os casos ocorridos na Amazónia estão ligados à criação de gado ou à produção de carvão vegetal. Essas actividades são, aliás,  as principais responsáveis pelo desmatamento da região.

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Manaus, 40 graus

Postado por Vanessa Rodriguesem 24 de Fevereiro de 2010

7 de Dezembro de 2009

Do adro da Matriz à Ponta Negra, há creme de cupuaçu, Guaraná Magistral, igrejas que são colo e aconchego de vida. Há calor-inferno. Cidade Aleluia, cidade crónica, cidade terminal. Viagens a pé, Cirandas de autocarro.

Por Vanessa Rodrigues


Sai uma arca frigorífica da Kaiser da Igreja Matriz de Manaus. Vende-se Coca-Cola à porta. Magistral, também, esse Guaraná do Amazonas. Ela vem de top transparente, assim preto rendinhas, legging cor-de-laranja, roçado e sujo na bunda. Meneia a anca. A tribal dança feminina. Olha gulosa o rapaz sentado na escada. Lá atrás filmam a Igreja. E o carro de Carnes Fino Corte espera, aguarda. Reserva-se, entretanto, comida num placard ali tão perto, numa praça que quer ser adro de Igreja matriz, mas empresta em vez a uma esplanada improvisada para a festa. Haverá festa, portanto por ali. Por isso, também se reserva comida: 3621-0443, o DDD é 92, Manaus, Amazonas. Quanto de vida há em cada canto do mundo, num segundo? Nos minutos vagarosos da Amazónia? Nos minutos de vida improvisada. Pó. Há pó. E quantos segundos são tudo na mesma escada, na mesma porta de Igreja de onde sai a arca frigorífica. Este homem passa de novo agora com camisola levantada. A barriga está nua. A nudez da barriga é sinal de festa. Há festa. Haverá festa.

O palco está montado, por isso, falta o entretenimento para a malta. Já limpaste o palco? Oh, mulher, que ali limpas o palco. Varres, devagarinho. Quem te sujou o palco? Para que festa? Ah. O placard da comida que se reserva: Prato completo a $ 55; Arroz, Vatapá, Frango desfiado, farofa, Tacacá. Lá tem. Vinagrete, ora, a três reais. Fatia de Pudim ou Brigadeiro a um real. Fatia de bolo de macaxeira a dois reais. Pode encher-se a boca só a dizê-los: Macaxeira, Tacacá, Vatapá. E há porção de três salgadinhos para enganar a fome. Creme de Cupuaçu…Banana Fruta. OBS.: pratos sujeitos a alteração sem aviso prévio. A comida pode mesmo ser um imprevisto.

Há música. Agora há música. A “louvar a Deus, Jesus Evangélico” na praça ali em baixo, antes do adro que é esplanada, antes, muito antes de se subir a escada onde está sentado o rapaz que a outra, a do legging laranja-roçado, galou. Há folhas secas, tão secas, no chão do jardim onde se louva a Deus.

Destak. Calçados, Algodão. Lojão TEM-TEM. Ah, tem. Como tem. Uma cidade enlatada como Manaus há-de ter tudo: tropicalidade a ser urbana, interior a querer ser genuíno – e o porto ali ao longe mal-cheiroso! Welcome to Manaus. Na hora certa para você: Condomínio Ajuricaba; Falcony´s Piercing; Luane compra e venda de electrodomésticos, componentes eletrônicos. E o 126 vai para o centro, terminal 1, Via conjunto Manoa; Punta Negra, Guaraná Real. Jolie Madame: Ótica e Jóias Óris. Hotel Paracatu. Tem promoções? Banheiro? Água quente? Cama de roupa lavada? Colchão como deve de ser? Assembleia de Deus dias de culto. Educandos. Cachoeirinha, Centro Educacional Santa Terezinha. Gasoduto-Coari-Manaus. Forró da Cabeça. Escola Estadual Euclides da Cunha (Os Sertões não estão um pouco longe?). Transmanaus. Vila Felicidade. Marapatã. “Prefeitura de Manaus mostrando trabalho” – ah o Mundial a semear o marketing. Espírita vidente Dona Valda, Tarô, Búzios. Pernoite com pole-dance por apenas $68; Banda GLS VIP com Realização de Bruna La Close, no Rio Negro Club. Shows de Drag Queen…A parede da casa de banho do Shopping: “A prática de ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público é passível de pena de detenção de 3 meses a 1 ano: art. 233 do Código Penal”. Igreja Pentecostal Santuário dos Milagres. Fim de Linha.

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Postado por Vanessa Rodriguesem 26 de Janeiro de 2010

[Entrevistas sobre a Amazónia Brasileira]

O manauara Marco Lima é pesquisador em Ictiologia Amazónica, guia naturalista e filho da Amazónia. Anda preocupado com o impacto que a construção da nova ponte, que ligará Manaus a Iranduba, sobre o Rio Negro, terá no ciclo dos peixes amazónicos . Fala em falta de preservação, falta de políticas e falta de consenso sobre como deve ser gerida a biodiversidade num lugar onde, afinal, parece, não falta nada.

Por Vanessa Rodrigues

MarcoLima
- O que tem a Amazónia de tão especial?

É a grande caixa de pandora que a Criação nos guardou para descobrirmos agora no séc. XXI, que é a maior zona de Biodiversidade desconhecida do planeta. Não é apenas uma imensa floresta, mas uma floresta cheia de belas surpresas, para usufruto do ser humano, e que deve ser preservado para as próximas gerações.

- De sua experiência, o que precisa ser feito para preservá-la?

Reconhecer o direito das pessoas que já habitam a região e, a partir de agora, criar políticas para preservá-la, beneficiando essas pessoas: quer seja Índio, caboclo ou o imigrante que hoje planta a soja, pois eles já moram na Amazónia e conhecem-na como ninguém. E, depois, que o Governo Brasileiro crie condições e lhes dê oportunidade para o acesso à educação, com seus direitos e deveres, como populações tradicionais.

- Qual a experiência que mais o marcou na região?

Quando jovem fui visitar uma Aldeia Yanomami, em Roraima. Esses índios tinham muito pouco contato com os Brancos. Isso foi em meados dos anos 80. Recordo um episódio em que, após ter comido, dei o meu prato de comida a um chefe yanomami. Chamou-o à atenção uma simples colher de alumínio – como se fosse um produto de alta tecnologia; como nós nos impressionamos ao ver um telemóvel ou um computador de última geração. Isso marcou-me muito. Esses índios foram quase que massacrados pelas invasões garimpeiras, nessa época.

- Qual a importância de suas pesquisas para a Amazônia?

Eu faço avaliações do impacto das queimadas, seja elas feitas por brancos ou por índios na vida da IctioFauna (Peixes) e seus impactos na reprodução dos peixes. Temos descoberto coisas bem negativas e de como isso está a ter um forte impacto na vida dos peixes.

- Por que é que a ponte que estão construindo em Manaus vai ter tanto impacto na vida dos peixes?

Como o ar, vento e chuva muda a rotina diária dos seres humanos, isso também ocorre com os peixes quando há mudança de correnteza. Os nossos grandes bagres migradores, que atingem mais de 3 metros, pesando acima de 250 quilos, poderão ter, com essa ponte, o seu ecossistema alterado, na subida do Rio Negro, pois eles na sua longa viagem anual pelos principais rios da Amazónia nunca haviam encontrado essa mudança.  Por mais absurda que possa parecer, a nossa natureza é muito desconhecida e os seus “hábitos” são extremamente delicados. Não aguentam certas mudanças, como se já não bastassem as Hidroeletricas do Madeira e essa nova corrida logística expansionista, pois onde elas chegam vem, também, o efeito cupim, fr destruição lenta, porém de grande impacto.

- O que você está fazendo pela Amazónia?

Tenho feito trabalhos para varias organizações entre elas para a União Europeia, no Fundo Amazônia, fazendo levantamentos sobre devastação em áreas alagadas, pois na Amazônia chega a alagar anualmente uma área com o tamanho de Espanha nos período de Dez a Junho. Faço parte, ainda, da “Fundação Floresta Viva”, levando consciência e educação ambiental Às populações ribeirinhas; e auxilio a BBC e a National Geograpic em seus programas em áreas isoladas da Amazónia.

- Histórias de sua passagem na região?

O que sempre me chamou a atenção foi o respeito que, no fundo, as pessoas têm pela selva; quer seja um madeireiro que todos os dias corta as árvores, ou um pescador que mata um gigante Pirarucu, na época em que ele está protegido. Podem, no entanto, escrever muita coisa sobre a Amazónia vivendo nela, dormindo e acordando aqui, respirando esse ar, mas faltará sempre papel para escrever o que vivemos e sentimos na Amazónia.

- Quais são os maiores problemas da Amazónia?

A falta de compromisso que todos têm para com ela, sobretudo quem dela e nela vive; a falta de políticas de todos os governos. Os únicos, realmente empenhados em preservá-la são os Militares  - que  cometeram muitos erros  no passado, mas hoje têm uma forte missão em preservá-la num Brasil sem tecnologia. Eles construíram a Transamazonica que fez 40 anos em 2009. A Amazónia precisa de um Ministério de investimentos, de atenção específica, pois todo o mal está à porta: o narcotráfico, a mineração ilegal, a Biopirataria. Precisamos de Governo na região, pois com ele se aplica a lei, e os direitos são garantidos. A Amazónia é um património do mundo que o Brasil foi sorteado para zelar.

Lendas, Guaraná

Postado por Vanessa Rodriguesem 5 de Janeiro de 2010

guarana01Por que é que este fruto energizante, chamado Guaraná, tem forma de um olho desperto e atento?

Conta-se que um casal de índios da tribo Maués vivia, há muitos anos, sem ter filhos. Um dia pediram a Tupã (uma entidade da natureza personificada pelo som do trovão), que lhes desse uma criança. Tupã, sabia que o casal era bondoso, por isso, atendeu o desejo: deu-lhes um lindo menino.

O tempo passou, o menino cresceu belíssimo, generoso e querido por todos na aldeia. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão e do mal, tinha muita inveja do menino. Decidiu matá-lo.

Um dia, quando o menino foi coletar frutos na floresta,  Jurupari aproveitou-se da ocasião para se vingar e acabar com a inveja que o carcomia. Transformou-se numa serpente venenosa, atacou e matou o menino.

A notícia da tragédia espalhou-se rapidamente. Nesse momento, trovões ecoaram e fortes relâmpagos caíram na aldeia.

A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que deveriam plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos. (Há uma outra versão da lenda que fala que a tribo passava fome e que teria sido essa nova planta que os salvara da morte).

Assim foi feito, e os índios plantaram os olhos da criança. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras rodeadas por uma película branca, muito semelhante a um olho humano.

Aliás, hoje só na regiáo de Maués, no Estado do Amazonas é que cresce o Guaraná, vendido em todo o Brasil, como um energizante natural.

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O guaranazeiro (Paullinia cupana, variedade sorbilis (Martius) Duke) é uma planta nativa da Amazónia, produz o fruto conhecido como guaraná. É uma espécie vegetal arbustiva e trepadeira da família das sapindáceas, cujo nome provém do termo indígena “varana”, que significa árvore que sobe apoiada em outra. Foi Cultivado inicialmente, na Amazônia pelos índios maués e hoje também é largamente cultivado na Bahia. Na Amazónia, a cidade de Maués é o município com maior produção do produto.

Glossário, piracema

Postado por Vanessa Rodriguesem 30 de Novembro de 2009
    sf (tupi piraséma)

  1. Migração anual dos peixes rio acima, na época da desova.
  2. Reg (São Paulo) Rumor que fazem os peixes, subindo para a nascente do rio, nessa época.
  3. Cardume ambulante de peixes.

Povo Mura

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Novembro de 2009

Quem é o povo Mura?

Vivem actualmente no estado do Amazonas, com uma população de 9.275 mil habitantes…

Localização: Habitat tradicional nas bacias dos rios Madeira e Purús. Hoje encontram-se localizados na Bacia do baixo rio Madeira, expressivamente no rio Autazes e baixo Purús no lago Ayapuá. Também existência de alguns grupos dispersos ao longo dessas bacias e que não se auto-identificam como povo Mura. Sudeste do Estado do Amazonas.

Histórico
Os MURA, como todas outras etnias do Amazonas, sofreram grandes devassas tanto em seus territórios quanto nos seus usos e costumes culturais. A história relata, com documentos comprobatórios, da participação e estratégias usadas pelos colonizadores para “limpar” áreas habitadas por grupos indígenas.

Adélia Engrácia de Oliveira, na introdução aos autos da devassa contra os índios Mura (1986:1) narra… “Sabe-se que eles, os quais faziam das canoas suas casas, que como “índios de Corso” abrangeram uma grande área de ação que se estendia da fronteira do Peru até o Trombetas, que se destacaram nas tentativas de rechaçar a invasão dos civilizados em seus territórios; sendo aguerridos, destemidos e usando táticas especiais de ataque, que enfim, com suas incursões e “correrias” atemorizaram a Amazônia do século XVIII, ficaram no entanto, historicamente conhecidos como os grandes vilões dessa região… E verdade que os índios Mura atacaram as canoas que iam ao comércio das “drogas do sertão”; que impediram o estabelecimento dos portugueses, a ação das missões e das guarnições militares em vasta região da Amazônia; que abrigaram vilas que então surgiam como as atuais cidades de ltacoatiara e Borba (rio Madeirá)”.

Para não perderem suas vidas e suas formas próprias de organização social, econômica e religiosa. Muitas vezes era defendendo suas vidas, suas terras e suas formas de pensar, sentir e agir que davam motivos para que contra eles se fizesse uma “guerra justa”, exterminando-os e facilitando a penetração e a expansão portuguesa na área amazônica, como ocorreu no caso dos Manaó.

Era de tal ordem o temor causado por este grupo indígena que o ouvidor Sampaio, intendente geral da Capitania de São José do rio Negro naquela ocasião, fez o seguinte comentário: (1) “conjeturo, que se não dá prompto e efficaz remedio para inteiramente profligar, e destruir esta nação, que por sua natureza conserva cruel, e irreconsiIiável inimizade com todas as mais nações, não exceptuando os índios: Que professa por instituto a pirataria, grassando por todos os lugares de público transito, em que deve haver maior segurança: Que nas suas guerras, e assaltos usa a mais barbara tirannia…: Que apenas dá quartel a algum rapaz, que depois de ferido, e impossibilitado de fugir, chega a captivar; e ainda assim para o reduzir a escravidão: Motivos estes que não somente justificão contra esta nação a mais infurecida guerra, mas que apersuade huma indispensável obrigação fundada no interesse, bem da paz, e segurança da sociedade universal das nações Americanas, e colonias deste continente: se não dá, digo, remédio a tantos, e tão universais damnos, ou se reduzirão a nada as colonias, e estabelecimentos dos rios Amazonas, Negro, Madeira e Japurá, ou experimentarão o estado de languidez, e diminuição, que necessariamente lhes causa o temor dos Muras, e por hum cálculo bem moderado se pode inferir, que o augmento, que tem, seria quadruplicado, e se seguros os moradores se applicassem à agricultura, ao commercio, e a navegação essencialmente necessaria neste paiz, para adiantar huma, e outro (Sampaio 1825:75-76).” Colocava-se, pois, na destruição dos Mura, a possibilidade de aumentarem e se expandirem as povoações da então Capitania de São José do Rio Negro.

De todas as tribus da Amazônia foi esta a que mais extenso território occupou espalhando-se das fronteiras do Peru até o Trombetas. Sendo que sua sede primitiva foi o rio Madeira. (cf. Nimuendaju, 1925:140)

Nimuendaju (1948:256) acredita que os Mura tenham procurado “proteção entre os “civilizados”, não só pelos ataques dos Munduruku mas também por causa das expedições punitivas, adoção de traços alienígenas e epidemias como sarampo e bexiga”.

Eram os Mura os únicos indígenas respeitados pelos ditos “civilizados” e, foi a ganância destes que transformou os Mura de pacíficos pescadores num terrível flagelo que durante mais de 100 anos pesou sobre grande parte do atual Estado do Amazonas.

Os Mura embora fossem massacrados, não desistiam da luta. Como bem ilustra o seguinte relato: Tropas colonizadoras surpreenderam uma maloca, às seis horas da tarde “deitando-lhe huma linha de cerco por água, e por terra. Os homens, rompendo a linha, fugirão: As mulheres com suas crianças, e todos os rapazes e raparigas lançarão-se à água aquererem ganhar huma ilha fronteira, em tempo, que ahi ainda não tinhão chegado as canoas (…) morrerão todos afogados em número de trezentos e tantos” (segundo um anônimo: cf. illustração 1826).

Os conflitos dos Mura com a sociedade regional culminaram com sua participação na Cabanagem, ao lado dos rebeldes. Os Mura sofreram tantas baixas que optaram pelo isolamento em regiões de refúgio, a exemplo do subgrupo Mura, os Mura Pirahã.

Darcy Ribeiro, (1979:37-41), relata que: “Os Mura habitavam primitivamente as terras da margem direita do médio Madeira onde enfrentaram os primeiros brancos que tanto subiam o rio vindos do Amazonas, como desciam, vindos de Mato Grosso. Graças ao sucesso de suas táticas de povo canoeiro, contra invasores que navegavam em pesados batelões, os Mura expandiram-se passando a ocupar um extenso território ao longo do Madeira até sua foz e daí pelo Amazonas e Purus acima, concentrando-se, principalmente, na região do AUTAZ. Desta posição, dificilmente acessível pelo intrincado sistema de lagos, furos e canais”.

Segundo Nimuendaju, guarnições militares foram criadas para fazer frente aos Mura e organizaram-se diversas expedições punitivas que anualmente os perseguiam em seus refúgios (Nimuendaju, 1925). Mas à força de guerrearem com os cristãos, os Mura, como tantos outros índios, acabaram por conhecer alguns dos seus elementos de cultura, como as armas de fogo e as ferramentas, a cujo uso se foram acostumando. A despeito disto e das baixas que sofriam, os Mura se conservaram independentes e hostís até 1784, quando surgiu na região uma outra tribo que lhe impôs sério revés. Eram os Munduruku, do rio Tapajós, que vinham expandindo-se para o rio Madeira. Vendo-se entre dois fogos, alguns grupos Mura procuraram espontaneamente uma vila “civilizada” propondo paz.

Cerca de quarenta anos após a redução, em 1826, escreve o anônimo que: “Está este gentio no Rio Negro em toda a parte em malócas, de mais, ou menos em número, e não se querem unir às Villas e lugares, pela opinião que entre elles há, que os querem escravizar como os outros Indios: opinião que he necessario desvanecer por meio das persuasões das vantagens que resulta da sociedade (cf. illustração). Mais adiante acrescenta: Com effeíto, ha quarenta, para quarenta e hum annos que esta tribu genntilica se congrassou comnosco, ainda não houve quem olhasse compassivo para estes miseraveis!! Convida-se aos gentios Maué, e Madurucú para formarem Missoens e dá-se-lhes Missionarios!!! Dir-me-hão: os Muras não se sugeitão à povoação. Que diligencias se tem feito para isso? Quantos Missionários se lhes tem dado para os agraciar e que se persuadão que he seu Missíonario? Nenhum. Alguns mandão baptizar os filhos innocentes nesta, e naquela Freguesia; que para o futuro vem a causar huma confusão, …com authoridade, soffrimento, e paciencia he possível concordar os animos, e pareceres, e tirar estes gentios da sua grocería, e estupidez; e formar com elles estabelecimentos estaveis, e rendosos, à que naturalmente he o seu temperamento analogo… Estão estes gentios preoccupados da idéia, que os Magistrados querem escravisallos, como tem por muitos modos encontrado. De nenhuma sorte consentem, que os filhos seus menores se apartem do seu seio… O genio bravo, e altivo, como transcedente dos seus maiores, sempre mostrão, …em todas as occasioens que os atacáo. Em 1818 vararão com huma flexa o Mineiro Alexandre pela barriga, quando se recolhia à Mato Grosso: que morrendo no Hospital da Barra, confessou, ser elle mesmo causa da sua morte, por ter tido a ousadia de tomar ao lndio a sua propria mulher. Em 1820 matarão à dous Soldados do destacamento do Crato, por lhes tomarem violentamente as suas montarias carregadas de tartarugas. Semilhantes à estes casos diariamente estão acontecendo. (illustração 1826).

Segundo Rodrigues & Oliveira (1977:09), os Mura havendo sido vitimados por epidemias, pelos ataques de guanições militares e civis, enfim, pelos efeitos dos contatos com os “civilizados”, os Mura que eram considerados um dos maiores grupos tribais da Amazônia e que por diversos meios procuraram evitar esses contatos, conforme foi mostrado anteriormente, acabaram por pedir a paz e se integraram aos povoados rurais das cercanias onde viviam, devendo ter diminuído muito em número e perdido grande parte do seu acervo cultural.

Características Culturais
Em decorrência dos dois séculos de intenso e violento contato com a sociedade regional; do forte processo de miscigenação da difusão de bebidas alcoólicas, etc., Os Mura foram sendo progressivamente absorvidos pela civilização com as vantagens e desvantagens que tal processo comporta, perdendo muito dos seus costumes originais.

Com base nos dados lingüísticos e localização geográfica, a tribo dos Pirahã assim como os Torá são conhecidos como subgrupo Mura. Neste informativo enfocaremos aspectos culturais do grupo Pirahã por terem maiores informações sobre eles e por estes não cedido ao contato permanente com os brancos, mantendo-se afastados dos núcleos regionais. Os Mura não tiveram o mesmo destino, dispersos em povoações regionais.

Rodrigues & Oliveira (1 977:10) chama a atenção para o fato da ergologia Mura Pirahã apresentar poucos elementos culturais quando comparada, por exemplo, com a dos índios do Alto Rio Negro (AM), os do alto Xingu (MI) e os próprios Munduruku (AM e PA) com quem tanto os Mura brigaram no passado e dos quais os Pirahã ainda tem lembranças, o que pode ser causado por duas possibilidades: a) perda de traços culturais face ao contato experimentado com os regionais, vítimas que foram da dominação de elementos da sociedade nacional e, também, com outros grupos tribais, como é o caso, por sinal, do uso do tabaco do paricá; o qual era lançado em pó dentro da caçoleta do cachimbo, sendo que o que se destina a tomá-lo, com as suas próprias mãos aplica a caçoleta a uma das ventas, enquanto outro assopra o tabaco com força pelo local, vindo por este modo a ser tão violento o efeito do tabaco assoprado que, a primeira assopradela, basta para os alienar dos sentidos e promover uma extraordinária descarga da pituíba (Ferreira, 1974:63), e que atualmente não mais é encontrado, b) conseqüência de um tipo específico de estrutura social e econômica pois os Mura-Pirahã, tal qual faziam os Mura há dois séculos, continuam a passar grande parte de seu tempo viajando em canoas, deslocando-se da terra firme para as praias que surgem na época das secas, sendo antes pescadores, caçadores e coletores do que agricultores, o que parece ter impedido o seu estabelecimento em aldeias mais ou menos fixas e, consequentemente, o surgimento de um material tecnológico mais elaborado (Rodrigues & Oliveira, 1977:12).

A organização social dos Mura é baseada em famílias extensas matrilocais. Antigamente o casamento geralmente era realizado com a prima cruzada e nesta ocasião, o homem simulava o roubo da mulher. Atualmente há um alto grau de miscigenação com a população regional.

Outra informação é que evitavam pronunciar o próprio nome e o de seus irmãos; não usavam termo de parentesco e utilizavam o nome próprio.

Atualmente, somente alguns elementos apresentam caracteres indígenas marcantes, e de um modo geral possuem estatura mediana. Apesar do alto grau de miscigenação, resultante do contato contínuo, não eliminaram-se totalmente as diferenças de ordem cultural. Os Pirahã mantêm a língua própria e o “modus vivendi” que os difere da população que os cerca. Observamos que entre os Mura os laços matrimoniais sucedem-se entre índios de etnias diversas, incluindo não índios.

Aldeia
Não se tem uma idéia exata dos antigos aldeamentos Mura. Bates e Craig chegam a fazer referências mais detalhadas das aldeias, quando dizem: O lugarejo, rio Amatari, na confluência do rio Amazonas com rio Madeira, consistia de cerca de vinte palhoças de paredes de taipa… (Bates, 1944: v.1, pg. 349) ou a cidade era constituída por um grupo de cêrca de 20 cabanas… (Craig, 1947:125), porém não mencionam se eram em círculo ou em alinhamento.

Habitações

Antigamente esse grupo, segundo alguns autores, viviam ora nos ramos das árvores na mata (southey, 1965:246), ora em redes atadas nos galhos vergados sobre a margem do rio (wallace, 1939:21 6), ou, então, em simples coberturas (Nimuendaju, 1948:267). Não construíam habitações sólidas e fixas (Bates, 1944: v.1 pg. 352) e as coberturas precárias, de palha, eram armadas sobre quatro esteios (Rodrigues, 1875:10).

Quanto ao subgrupo Pirahã localizado no baixo Maicí, suas habitações são de dois tipos: jiraus com e sem coberturas. Quando na praia do rio Marmelos, inicialmente as moradas são construídas sem tetos, constituindo-se apenas de jiraus utilizados para passarem o dia e dormirem. Quando as chuvas se tornam mais freqüentes é que os Pirahã providenciam a cobertura. Esta é constituída de quatro, seis, oito ou nove esteios fincados no chão e cobertos com palha de babaçu, sororoca ou caranã (Rodrigues & Oliveira, 1977:16).

Atividades de Subsistência

Antes a economia de subsistência e agora já engajada num sistema de troca extra-tribal. As atividades básicas são a agricultura, pesca, coleta e extrativismo. Os Mura são considerados exímios pescadores e caçadores, sendo esta sua maior fonte de subsistência.

Todo produto da agricultura é para ser consumido internamente, exceção de algumas frutas e a mandioca destinada à feitura de farinha, com excedente destinado a venda.

A pesca está toda comprometida com o consumo interno, a não ser a do pirarucu, que é salgado e destinado a venda.

A coleta de frutos silvestres, mel e castanhas é quase que totalmente voltada para o próprio consumo, enriquecendo a dieta alimentar. Algumas seringueiras lhes rendem algum dinheiro, bem como a extração do óleo da copaíba e corte de madeira.

A pesca constitui a atividade básica de subsistência do grupo, ela é praticada pelos Pirahã com arco e flecha ou timbó nas águas mais paradas dos lagos. Os peixes são consumidos assados na brasa, moqueados em forquilhas ou moquéns ou então simplesmente cozidos.

O trabalho na roça é uma atividade desempenhada.

Normalmente a técnica aplicada é da coivara, plantam principalmente mandioca, macaxeira, banana, jerimum, mamão, batata-doce, cana-de-açúcar e cará. Utilizam pequenas porções de terra em formas arredondadas, obtendo assim produto suficiente apenas para o consumo de cada família. Da mandioca preparam á farinha e fazem uso do tipiti.

Instrumental para Subsistência
1) Armas
Os Mura foram considerados os mais aguerridos da Amazônia. Ficavam de tocaia nas árvores e quando o inimigo passava caiam-lhe em cima com flechas, pois eram hábeis no manejo do arco e flecha.

Entre os Pirahã, os arcos são simples, sem enfeites. Os arcos são feitos de ingarana ou pau d’arco e, para sua confecção a madeira, após o corte, é. aplainada com terçado preso a uma forquilha, sendo em seguida levada ao fogo. Esta é uma atividade masculina. As mulheres cabe o fabrico da corda, feita a partir da envira.

Com relação às flechas fazem-nas com ou sem emplumação, sendo esta última modalidade a mais utilizada, pois, na maioria das vezes os Pirahã, pescam com arco e flecha, o que já não ocorre com a caça. Para este fim preferem os rifles.

O uso de zarabatanas é mencionado por Craig (1947:126)… “via-se uma zarabatana com que sopram fIechas ervadas”. Tais flechas foram também citadas por Carvajal e Acunã (1941:259). Hoje não mais são utilizadas.

Ainda a respeito de armas há uma referência bibliográfica feita por Souza (1873:145), sobre o murucu que é uma arma de guerra, feita de pau vermelho. Muito utilizada à época pelos Mura.

2) Armadilhas
Os Pirahã possuem dois tipos de armadilhas: a) o apito ou isca, constituído de um pedaço de flandres dobrado ao meio com um furo numa das extremidades para produzir som imitando a anta, cotia, macaco ou outro bicho que desejam caçar; b) a armadilha de tracajá, feita de madeira leve, em forma de torno, onde prendem a linha e o anzil que são jogados na beira do rio e amarrados nos galhos das árvores.

3) Moquens
Utilizam dois tipos: vara de madeira aberta no sentido longitudinal até cerca da parte mediana onde é preso o peixe e enterrada obliquamente no chão e jiraus de formas variadas.

4) Cestaria
Confeccionam cestos de carregar. Quando vão colher a mandioca ou caçar, preparam este cesto com palha de babaçu, de forma retangular, para transportar tanto a mandioca, cará e batata doce como frutos silvestres. Neste mesmo cesto colocam a mandioca dentro d’água para pubar.

Outro tipo, aliás o menos comum, de forma circular, feito de cipó ambé, com base triangular, é semelhante ao paneiro usado por outros grupos na região Amazônica e utilizado para colocar objetos pessoais. Fazem também peneiras, tipitís (feitos de arumã) e abanos de forma triangular, com trançado simples.

5) Transportes
O meio de transporte desses índios era e é essencialmente feito através de rio. Nos dias atuais, os Pirahã do Alto Maicí, ainda constroem canoas de casca de árvore marupá, da copaíba e do jabotá.

6) Adornos
Conforme Aires e Cazal (1943:236), os homens não só ornam os braços e pernas, mas ainda furam o nariz, orelhas e beiços, donde trazem pendentes, conchas, dentes de porco e de feras. Os Mura usavam também colares e cintos. Hoje em dia os ornamentos Pirahã são constituídos somente de colares, braçadeiras e anéis.

Rodrigues & Oliveira (1977-28) dizem que certos tipos de pendentes, além do caráter de adorno tem outras funções, como por exemplo a semente da seringa, que é utilizada para acabar com o medo.

As braçadeiras podem ser de palha, fio de algodão ou tira de pano. Os diademas de palha, de forma arredondada, semelhantes a outros que os antigos Mura usavam (Ferreira, 1974:61), ainda são feitos, pelos Pirahã e também por alguns Mura de Autazes, porém pouco utilizados.

Os anéis são fabricados do caroço de tucumã, tanto por homens quanto por mulheres.

Os cabelos são cortados com pente e tesoura, o que antigamente era feito com mandíbula de piranha no mesmo processo do corte com navalha.

7) Brinquedos
As brincadeiras infantis entre os Pirahã são uma forma de prepará-los para a vida adulta. É assim que se vêem meninos aprendendo a fabricação de arcos e flechas para as suas pescarias, com caráter de brincadeira, enquanto que as meninas brincam com fusos e ajudam a cuidar das crianças menores.

8) Instrumentos Musicais
Rodrigues & Oliveira (1977:11) encontrou entre os Pirahã flautas de “pan” com dois ou seis tubos de taboca presos com fios de envira que, segundo eles, às vezes tocam nos poracês (festas) realizados nos dias de luar. As crianças usam pequenos arcos como instrumento musical.

Situação Atual
Souza & Zuardi, analisando a situação atual do grupo Mura no município de Autazes, dizem que, pelos enfrentamentos em defesa territorial os Mura conseguiram além do decréscimo populacional, realçar e atrair para o grupo uma antipatia e sérios preconceitos que são demonstrados até os dias atuais. A visão do colonizador e os entraves para o processo civilizatório imposto por eles, são passados através de dados históricos, permeados de malquerença. Preconceito este comum no confronto entre populações etnicamente diferenciadas.

Os índios Mura, com exceção dos Pirahã, tem contato permanente com os “civilizados”, representados na forma de regatões, extrativistas e “motores” que cruzam o rio diariamente e que habitualmente param nas praias, onde os índios levantam seus tapirís e lá realizam um comércio, através de trocas de mercadorias e bens já introduzidos em sua cultura. É comum a troca de caças, peixes, por aguardente, açúcar e quinquilharias.

Os extrativistas param nas redondezas principalmente na época da coleta da castanha que vai de dezembro a abril.

Existem invasões territoriais e pesca predatórias nos lagos. Perda da autonomia cultural, da posse do território e engajamento em atividades produtivas regionais.

AtuaImente os Mura não andam nus. Os cabelos que antes eram aparados por mandíbula de piranha, atualmente são cortados com pente e tesoura, os homens aparam os seus bem rente, já as mulheres os deixam longos.

A cultura material está restrita a colares de sementes, miçangas, contas diversas e anéis de tucumã.
Os Pirahã usam ainda a prática da pajelânça e a pintura corporal é aplicada principalmente nas partes enfermas do corpo, quando necessário, e para isso costumam usar o urucum.

As habitações de um modo geral são simples e rústicas, possuem uma ou duas águas, armadas por oito esteios em forma de forquilhas onde são encaixadas as vigas horizontais. A cobertura é feita com folhas de babaçu ou soro-roca.

O despreparo dos índios para a vida urbana sem que lhe seja oferecidas condições de boa adaptação, leva ao conflito nas disputas pelo acesso aos frágeis equipamentos urbanos e é inevitável o choque de dois modos distintos de comportamento social e representação da vida: o indígena e o não indígena (Cariua).

Encontram-se num processo de negação étnica, envergonhando-se da identidade tribal. Todavia, o grupo Mura tem se empenhado de modo a reverter esse processo.

Nota:
1 – Os textos em negrito são transcritos no português utilizado à época.
Fonte: FUNAI/CGDOC-MANAUS

Fontes: Ministério da Justiça, Fundação Nacional do Ìndio, Povos Indígenas

Ouvir em SinaisDaGente Música de Ninar do Povo Mura AQUI

Lendas, Amazonas

Postado por Vanessa Rodriguesem 28 de Novembro de 2009

amazonas01Há controvérsias sobre quem realmente terá visto, pela primeira vez as guerreiras Amazonas, uma tribo de mulheres que habitava o Rio Amazonas,  então apelidado de “mar dulce”, por exploradores espanhóis. Há historiadores que afirmam que o navegador espanhol Orellana não combateu as Amazonas, como se conta recorrentemente, mas sim uma tribo de índios de cabelos compridos, auxiliados, na guerra pelas mulheres.

Frei Gaspar de Carvajal, que participou da expedição de Orellana, dá testemunho da existência dessas mulheres guerreiras. Esses relatos gaanham força na voz dos índios que descrevem a existência de uma tribo de mulheres guerreiras. Segundo se lê no “Portal da Amazônia”, os índios não falavam em “Amazonas”, até porque “não sabiam o que significava”.

Os índios falavam, sim, em Icamiabas, que significa “mulheres sem maridos”. As Icamiabas viviam no interior da região do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por leis próprias. A região era denominada por estes aventureiros de País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a dos Guacaris.

De acordo dom pesquisas do folclorista Alceu Maynard Araújo, nesse Reino das Pedras Verdes, realmente, viviam em comunidade as Amazonas, mulheres guerreiras e trabalhadoras: caçavam, pescavam, faziam cerâmica, redes, tecidos; trabalhavam na roça, faziam armas.

A liderança dessa tribo estava a cargo de uma única mulher, que tinha também a responsabilidade religiosa. O reinado dessa líder era curto: só as virgens enter os 20 e os 25 anos poderiam disputar a liderança das Amazonas.

A cada cinco luas cheias, no mês de Abril (ou seja um período de 5 anos) haveria renovação na chefia da tribo.

Mas por que razão, esse lugar, se chamava Reino das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os muiraquitãs, as famosas pedras verdes… Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam.

Depois do acasalamento, mergulhavam num lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria-prima com que moldavam os muiraquitãs. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor… Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam os filhos para os Guacaris… De qualquer forma, quando se pronuncia Amazónia, não se pode deixar de pensar em muiraquitãs e em mulheres guerreiras…

Era no Lago Verde que as Amazonas faziam seus muiraquitãs

Motivos semelhantes levam esse grande contingente populacional a se deslocar para Alter-do-Chão, uma vila turística localizada na margem direita do rio Tapajós e ligada por via rodoviária à cidade de Santarém.

O rio Tapajós possui características únicas entre os afluentes do Amazonas – suas águas são cristalinas – e, em frente à vila, com a descida das suas águas durante o verão, surge uma lagoa cor de esmeralda cercada por bancos de areia branca apropriadamente denominada de “Lago Verde”. O Lago Verde, também chamado de Lago dos Muiraquitãs, era ponto de passagem obrigatório das índias Amazonas.

Referência: Amazonas foi o nome dado às mulheres guerreiras da Antiguidade que habitavam a Ásia Menor e cuja existência alguns historiadores consideravam um mito. Segundo a lenda, elas removiam um dos seios para melhor envergar o arco, deixando o outro para amamentar seus rebentos, que, se nascessem do sexo masculino, eram impiedosamente sacrificados. Amazonas, aliás, quer dizer sem seios (“mazos”) em grego. No século XVI, essa designação foi dada a mulheres com as mesmas características, cuja existência histórica é discutida e que combaterem os conquistadores espanhóis no baixo-Amazonas.

Na realidade, isso pode ser o efeito do sol penetrando as águas transparentes e iluminando o fundo do lago, rico em nefrita.

Fonte: Portal da Amazônia

sinais na imprensa

Postado por Vanessa Rodriguesem 26 de Novembro de 2009

SinaisDaGente citado na imprensa e no mundo virtual…

Viagem Brasil Tur

sinais na imprensa

Postado por Vanessa Rodriguesem 26 de Novembro de 2009

SinaisDaGente citado na Imprensa e no mundo virtual…

Página 1

Lendas, Cobra Grande

Postado por Vanessa Rodriguesem 25 de Novembro de 2009

cobragrandeOs pescadores falam dela como um ser gigante que habita os rios da Amazónia para atormentar a vida das comunidades. Falam em redemoinhos, buracos gigantes no meio da água, embarcações enormes que se transformam, monstro das águas amazónicas.

A Cobra grande é uma lenda amazónica que fala de uma cobra colossal, também chamada Boiúna, que cresce de forma desmesurada e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios.

Ao rastejar pela terra firme, deixa sulcos que se transformam em igarapés.

Conta a lenda que a cobra-grande pode transformar-se em embarcações ou outros seres. Aparece em numerosos contos indígenas. Um deles conta que numa tribo indígena da Amazónia, uma índia, grávida da Boiúna, deu à luz a duas crianças gêmeas. Uma delas, má, atacava os barcos, naufragando-os.

Esta história tornou-se célebre no poema Cobra Norato, de Raul Bopp, sendo encenado inclusive, em teatros de vários países. A verdadeira cobra grande: a sucuriju ou sucuri é a temida anaconda da Amazónia: o seu comprimento pode atingir mais de 10 metros. Mata as suas presas por constrição, apertando-as até a morte.

Celebrizada nos filmes de terror, é temida pela população ribeirinha, pois habita as áreas inundáveis e é dotada de grande força, sendo capaz de neutralizar qualquer tentativa de defesa da vítima.

Fonte: Portal da Amazônia

Brasil Caboclo

Postado por Vanessa Rodriguesem 23 de Novembro de 2009

Excerto de um dos meus companheiros de viagem: “O Povo Brasileiro” de Darcy Ribeiro…(1995)

“Mais da metade da população original de caboclos da Amazônia já foi desalojada de seus assentos, jogada nas cidades de Belém e Manaus. Perde-se assim, toda a sabedoria adaptativa milenar que essa população havia aprendido dos índios para viver na floresta.

Toda a área desse sistema fluvial Solimões-Amazonas era ocupada, originalmente, por tribos indígenas de adaptação especializada à floresta tropical.
Em nenhuma outra região brasileira a população enfrenta tão duras condições de miserabilidade quanto os núcleos caboclos dispersos pela floresta, devotados ao extrativismo mineral vegetal e, agora, também ao extrativismo mineral do ouro e do estanho. Os seus modos de vida constituem um variante sócio-cultural típico da sociedade nacional.

A característica básica dessa variante é o primitivismo de sua tecnologia adaptativa, essencialmente indígena, conservada e transmitida, através de séculos, sem alterações substancias.
Com o surgimento dos seringais cultivados no Oriente e da borracha sintética, a exploração da borracha nativa tornou-se economicamente inviável. Desde então, o seringal só sobrevive graças a um protecionismo estatal que o mantém artificialmente, mas sem a preocupação de amparar a massa de trabalhadores nele engajada.

Os protagonistas desses esforços foram alguns lusitanos , muito neobrasileiros mestiços, e a indiada engajada como mão de obra escrava.
A reação indígena a esse tratamento desencadeou a guerra e o afastamento das tribos antes aliadas para refúgios em que se punham a salvo da escravidão.

Uma solução melhor seria encontrada com a instalação de núcleos missionários, principalmente jesuíticos, mas também carmelitas e franciscanos. Mas estes tiveram que lutar muito com os próprios colonizadores pra impor como a mais racional e proveitosa.
O convívio entre índios de diferentes matrizes impuseram a homogeneização lingüística e o enquadramento cultural compulsório no corpo de crença e nos modos de vida dos seus cativadores.

Foram, no entanto, reduzindo progressivamente as populações tribais autônomas, prela incorporação do sistema de contagio que as dizimava, vitimadas por enfermidade antes desconhecidas, pela guerra e pelo engajamento e desgaste no trabalho.

Foi surgindo uma população nova, herdeira da cultura tribal no que ela tinha de forma adaptativa à floresta tropical. Falava uma língua indígena, muito embora esta se difundisse como a língua da civilização, aprendida de brancos e mestiços. Como os índios, finalmente localizava e coletava na mata as especiarias cujo valor comercial tornava viável a ocupação neobrasileira da Amazônia e a vinculara à economia internacional.

Nenhum colonizador sobreviveria na mata sem esses índios que eram seus olhos, suas mãos e seus pés.
A Coroa Portuguesa esforçou-se por estabilizar a sociedade nascente, estimulando o cultivo de algumas plantas indígenas.

Desse modo, ao lado da vida tribal que fenecia em todo o vale, alçava-se uma sociedade nova de mestiços que constituiria uma variante cultural diferenciada da sociedade brasileira: A dos caboclos da Amazônia. Seu modo de vida, essencialmente indígena enquanto adaptação ecológico-cultural, contrastava flagrantemente, no plano social, com o estilo de vida tribal.

O pleno amadurecimento da nova estrutura societária só se deu co o rompimento da dualidade que a dividia em reduções missionárias e núcleos colonizadores.

A Coroa portuguesa, empenhada em consolidar a ocupação da Amazônia, construí uma rede de cidades urbanizadas e dotadas de serviços públicos e igrejas que chegaram a ser suntuosos para a região.

A dupla função dessa massa cabocla foi a de mão de obra de exploração extrativista de drogas da mata exportadas para a Europa. Foi também instrumento de captura e dizimação das populações indígenas autônomas.
Sobre o caboclo caíram duas ondas de violência. A Primeira veio com a extraordinária valorização da borracha no mercado mundial, lançando sobre eles gentes vindas de toda parte para explorar a nova riqueza.

Perderam sua língua própria, adotando o português. A segunda onda ocorre em nossos dias com a nova invasão da Amazônia pela sociedade brasileira, provocando o desalojamento dos caboclos das terras que ocupavam.

A percepção que índios e caboclos tinham do inimigo como seu opressor étnico adquire aqui a crueza de uma oposição racista que engloba todos os “homens de cor” numa só categoria de inimigos a serem exterminados.

Século passado a região amazônica volta a experimentar uma quadra de prosperidade, motivada agora pela crescente valorização nos mercados mundiais de um de seus produtos tradicionais de coleta: a borracha, com desenvolvimento da industria européia e norte-americana de automóveis.

Uma ferrovia é construída em plena mata, à custa de enormes sacrifícios humanos, a Madeira-Mamoré, que ligaria concentrações de seringueiras de Porto Velho até o Rio Mamoré.

Cada trabalhador engressava no serviço com sua feira e seu débito, que aumentaria cada vez mais com os suprimentos de alimentação, de remédios, de roupas providas pelo barracão. Dificilmente um seringueiro consegue saldar essa conta que o mantém em regime de servidão virtual enquanto possa resistir às terríveis condições de vida a que é submetido.

Em cada seringal, um grupo de caboclos amazônicos exerce as funções de mestre. Ensinam a identificar a seringueira, a sangra-la diariamente sem afetar-lhe a vida, a colher o látex e a defuma-lo cuidadosamente para formar as bolas de borracha.

A prosperidade da economia extrativista interrompeu-se, porém, abruptamente com a Primeira Guerra Mundial. Não se refaria jamais por causa da entrada no comércio mundial da produção dos seringais plantados pelos ingleses no Oriente.

A decadência da economia da borracha matou também as cidades que floresciam pela Amazônia inteira, provocando o completo abandono de algumas e a completa deterioração de outras. Sem produção básica para exportar, o comércio decaía, sobrevivendo apenas com o apelo a especulação e ao contrabando.

O desequilíbrio da economia regional, suas dificuldades de integração na vida do país e as precárias condições de existência de suas populações levaram os constituintes de 1946 a destinar uma parcela de 3% das rendas federais a um programa de valorização da Amazônia.

Tal como a pobreza do Nordeste árido fez do amparo federal uma “indústria da seca”, a penúria dos caboclos da Amazônia fez do “desenvolvimento regional” um rico negócio e um mecanismo de consolidação política da oligarquia local.

A tentativa de espoliação assumiu a forma de uma proposta, apresentada à ditadura pelo governo norte americano, de arrendamento da área por 99 anos com o fim de “estuda-la e comprovar experimentalmente as técnicas adequadas para promover o seu desenvolvimento”.


Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro foi antropólogo, romancista e político. Criador do Museu do Índio (1953) e fundador da Universidade de Brasília. Publicou várias obras:  “Línguas e Culturas Indígenas do Brasil” , “O Processo Civilizatório”, “Maira”, “O Mulo”, entre outras as origens e mazelas do povo brasileiro.

“O povo brasileiro” é para a História do Brasil uma das mais importantes obras de ciências sociais sobre a formação da identidade. É um livro que desvela, pormenoriza e criticamente, cada aspecto da formação da gente brasileira, das estruturas sociais e das características que fazem o imenso  e díspar Brasil .

“Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si… Assim foi ate se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros…”
Darcy Ribeiro

Lendas, Rio Amazonas

Postado por Vanessa Rodriguesem 20 de Novembro de 2009

rioamazonasContam os mais antigos que, há muitos anos, havia na selva amazónica dois noivos apaixonados que queriam viver juntos para sempre. Ela vestia-se de prata e seu nome era Lua. Ele vestia-se de ouro e o seu nome era Sol.

Lua era a dona da noite e Sol do dia. Havia porém, um obstáculo para aquele namoro: se eles se casassem o mundo acabar-se-ia. O ardente amor de sol queimaria a terra e o choro triste da Lua afogaria a terra. Apesar de apaixonados, como poderiam se casar?

A Lua apagaria o fogo? O Sol faria toda a água evaporar? Por isso, tiveram de se separar. Nunca puderam casar-se. Os noivos ficaram desesperados, a Lua de prata e o Sol de ouro. No desespero da saudade, a Lua chorou durante todo um dia e toda uma noite.

As suas lágrimas escorreram por morros sem fim até chegar ao mar. Mas o mar, com tanta água ficou furioso: ele não queria tanta água. A sofrida Lua não conseguia misturar as suas lágrimas às águas bravas do mar. Por, isso, algo estranho aconteceu. As águas escavaram um imenso vale, serras  levantaram-se. Um imenso rio apareceu. As lágrimas da lua formaram o rio Amazonas, o rio-mar da Amazônia.

Fonte: Portal da Amazônia

Glossário, Amazónia

Postado por Vanessa Rodriguesem 15 de Novembro de 2009

Conhecer a diversidade amazónica é reinventar a linguagem, o olhar, os sentidos e a forma de comunicar… Ficam aqui algumas palavras, regionais, e que enriquecem a Língua Portuguesa…

  • açaí
    sm (tupi yua saí) Bot

  1. Fruto do açaizeiro.
  2. Açaizeiro.
  3. Refresco delicioso feito com o suco do coco-açaí e que deu origem à sentença proverbial, folclórica: ‘034;Foi ao Pará, parou; bebeu açaí, ficou’034;.
  • acará
    sm (tupi akará) Ictiol Designação comum a vários peixes ciclídeos de água doce, muito procurados para criação em aquários. A.-açu: o mesmo que apaiari. A.-bandeira: peixe ciclídeo (Pterophyllum scalare), de bela e ornamental aparência. A.-bererê: peixe ciclídeo (Cichlasoma festivum), da Amazônia; acarapinaxame. A.-cascudo: peixe ciclídeo (Cichlasoma facetum), do Sul do Brasil. A.-chibante: peixe ciclídeo (Geophagus jurupary), de cor verdoenga e forma oblonga, comprimida. A.-diadema: peixe ciclídeo (Geophagus brasiliensis); na época da reprodução, cresce uma protuberância na cabeça do macho; passada essa fase, ela desaparece; alimenta-se do limo das pedras e é a espécie mais comum de acará; acará-topete. A.-grande: o mesmo que apaiari. A.-guaçu: o mesmo que acará-açu e apaiari. A.-mocó: o mesmo que cangulo. A.-topete: o mesmo que acará-diadema;
  • andiroba
    substantivo feminino Rubrica: angiospermas.

  1. árvore de até 30 m (Carapa guianensis), da fam. das meliáceas, nativa de regiões tropicais das Américas, esp. do Brasil (AMAZ a BA), com casca adstringente, madeira de qualidade, flores amarelas ou vermelhas, e cápsulas com sementes de que se extrai óleo insetífugo, us. em lamparinas, para fabricar velas e sabão, contra a artrite e infecções de garganta e, outrora, no encolhimento de crânios; andiroba-branca, andiroba-do-igapó, andiroba-suruba, andirobeira, andirova, nandiroba
  2. Regionalismo: Bahia.   m.q. castanha-mineira (Fevillea passiflora)
  3. m.q. fava-de-santo-inácio-falsa (Fevillea trilobata)
  4. m.q. ucuuba-cheirosa (Virola surinamensis);
  • bacaba
    sf (tupi yuakáua)

  1. O mesmo que bacabeira.
  2. Fruto drupáceo da bacabeira e do bacabaçu, que fornece um óleo usado no fabrico de sabão.
  3. Bebida preparada com o suco desse fruto;
  • boto
    (ô) sm

  1. Zool Cetáceo delfinídeo (Sotalia brasiliensis); Folc: acreditam os indígenas do Amazonas que o boto é encantado e, transformando-se em moço, seduz as jovens. É considerado, pois, pai de todos os filhos cujo progenitor não se conhece.
  2. V toninha, acepção 2.
  3. Ictiol Gênero típico da família dos Botídeos.
  4. gír Pessoa ou coisa volumosa. B.-branco, Zool: cetáceo de água doce (Inia geoffroyensis). B.-vermelho, Zool: cetáceo;
  • caboclo -substantivo masculino Regionalismo: Brasil
  1. Diacronismo: antigo.   selvagem brasileiro que tinha contato com os colonizadores
  2. indivíduo nascido de índia e branco (ou vice-versa), fisicamente caracterizado por ter pele morena ou acobreada e cabelos negros e lisos
  3. Derivação: por extensão de sentido.   m.q. curiboca
  4. qualquer mestiço de índio; tapuio
  5. indivíduo (esp. habitante do sertão) com ascendência de índio e branco e com físico e os modos desconfiados, retraídos;
  • cafuzo
    adjetivo e substantivo masculino Regionalismo: Brasil.

  1. diz-se de, relativo a ou filho de negro e índia (ou vice-versa)
  2. Derivação: por extensão de sentido.   diz-se de, relativo a ou qualquer mestiço descendente de negros e índios
  3. Derivação: por analogia.   diz-se de ou mestiço de pele muito escura ou negra e cabelos lisos e cheios (como os dos índios);
  • candiru
    substantivo masculino Rubrica: ictiologia. Regionalismo: Brasil.

  1. design. comum aos peixes teleósteos siluriformes das fam. dos tricomicterídeos e ceptosídeos, ger. de distribuição amazônica, hematófagos, capazes de parasitar as brânquias de outros peixes e penetrar em orifícios naturais de animais e da espécie humana, podendo causar ferimentos graves e até a morte
  2. peixe (Vandellia cirrhosa) da fam. dos tricomicterídeos, encontrado na Amazônia, Rio de Janeiro e Orinoco, com até 8 cm de comprimento, corpo rosado, cabeça deprimida e barbelas nos lados da boca, guarnecida de dentes cônicos e espinhos no opérculo; candiru-de-cavalo
  3. peixe (Pseudostegophilus scarificator) da fam. dos tricomicterídeos, encontrado nos rios Pardo, Mogi Guaçu, Grande e Paraná, de corpo amarelo com pintas prateadas nos flancos; candiru-pintado, chupa-chupa, mata-dourado, peixe-sanguessuga, peixe-vampiro
  • copaíba
    substantivo feminino

  1. Rubrica: angiospermas.   design. comum às árvores do gên. Copaifera, da fam. das leguminosas, subfam. cesalpinioídea, nativas do Brasil, de boa madeira, e cujo córtex encerra óleo medicinal; copaibeira, óleo, pau-de-óleo
  2. Rubrica: angiospermas.   árvore de até 40 m (Copaifera officinalis), nativa do Brasil (AMAZ a PI), de casca rugosa, folhas compostas, flores brancas, e vagens carnosas; bálsamo, copaíba-verdadeira, copaibeira, copaúva, cupaúba, cupiúba, jatobá-mirim, óleo-branco, óleo-de-copaíba, pau-de-óleo, pau-do-óleo [A madeira é us. em construção civil e naval.]
  3. Rubrica: angiospermas.   m.q. copaíba-jutaí (Copaifera martii)
  4. Rubrica: angiospermas.   m.q. copaíba-vermelha (Copaifera langsdorffi)
  5. Derivação: por metonímia. Rubrica: farmacologia.   óleo extraído dessas árvores, com inúmeras aplicações medicinais, esp. como cicatrizante, antileucorréico e antitetânico; bálsamo do Brasil, bálsamo de copaíba, óleo de copaíba
  • curupira
    substantivo masculino Rubrica: etnografia. Regionalismo: Brasil.

  1. ente fantástico das matas, descrito predominantemente como um anão de cabelos vermelhos e pés ao inverso, para deixar pegadas enganosas e confundir os caçadores, protegendo, assim, as árvores e os bichos; currupira v substantivo feminino Rubrica: angiospermas.
  2. design. comum às plantas do gên. Curupira, da fam. das oleáceas, com uma única sp. (Curupira tefeensis) nativa do Brasil;
  • guaraná
    (Houaiss) • substantivo masculino Regionalismo: Brasil.

  1. Rubrica: angiospermas.   arbusto escandente de até 10 m (Paullinia cupana), da fam. das sapindáceas, de folhas com cinco folíolos, pequenas flores aromáticas em tirsos, cápsulas septicidas e sementes subglobosas, com vários usos medicinais, esp. como tônicas e excitantes, e de que se fabricam refrigerantes; guaranazeiro, naranazeiro [Nativo da Amazônia, há séculos é cultivado entre os maués, pelas sementes, ger. transformadas em pasta, depois em bastão muito duro (o g. em bastão), tradicionalmente limado em língua seca de pirarucu para ser reduzido a pó (o g. em pó).]
  2. pasta, bastão ou pó dessas sementes
  3. xarope feito dessas sementes
  4. beberagem ou refrigerante preparados com esse pó ou esse xarope;     (Michaelis) -
    - sm (tupi uaraná)

  1. Bot Arbusto trepador, da família das Sapindáceas (Paullinia cupana), que se encontra em estado silvestre, mormente nas regiões entre os rios Tapajós e Madeira; guaranazeiro, naranazeiro, uaraná.
  2. Resina dessa planta.
  3. Pasta seca comestível rica em cafeína e tanino que os índios Maués, do Amazonas, preparam com as sementes dessa planta.
  4. Bebida gasosa e refrigerante fabricada com o pó dessa pasta. G.-timbó: o mesmo que goranatimbó.
  • igarapé
    substantivo masculino Regionalismo: Amazônia.

  1. riacho que nasce na mata e deságua em rio
  2. canal natural estreito e navegável por pequenas embarcações, que se forma entre duas ilhas fluviais ou entre uma ilha fluvial e a terra firme;
  • igapó
    substantivo masculino Regionalismo: Amazônia.

  1. região da floresta amazônica que permanece alagada mesmo na estiagem dos rios
  2. Rubrica: fitogeografia.   vegetação baixa e uniforme dessa região, pobre em espécies, com árvores afastadas e numerosos epífitos; mata de igapó;
  • mameluco
    substantivo masculino

  1. membro de antiga milícia turco-egípcia, orign. formada por escravos caucasianos convertidos ao islamismo, que conquistou grande poder político no Egito [Essa milícia ocupou o sultanato do sXIII ao XVI e, derrotada por Napoleão em 1798, foi exterminada e dispersada em 1811 por Mehemet-Ali.]
  2. (sXVII)Regionalismo: Brasil.   mestiço de branco com índio ou de branco com caboclo; mamaluco;
  • maniçoba
    substantivo feminino

  1. Rubrica: angiospermas.   design. comum a diversas plantas da fam. das euforbiáceas, esp. do gên. Manihot
  2. Rubrica: angiospermas.   arbusto (Manihot caricaefolia) da mesma fam., nativo do Brasil, de caule lenhoso, folhas liradas e flores em racemos ferrugíneos e tomentosos; mandioca-brava
  3. Rubrica: angiospermas.   árvore de até 20 m (M. glaziovii) da mesma fam., nativa do Brasil, de raízes venenosas, folhas alternas palmatilobadas, flores apétalas, cápsulas de três lobos que, quando maduras, se rompem atirando as sementes a grandes distâncias; o caule e os pecíolos exsudam látex com cheiro da albumina do ovo e sabor adocicado que coagula e petrifica em contato com o ar, exalando mau cheiro; maniçoba-do-ceará
  4. Rubrica: culinária.   iguaria preparada com as folhas tenras da mandioca ou maniva, que devem ser trituradas e depois cozidas por longo tempo, acrescidas de carne suína e temperadas com alho, sal, louro, pimenta
  • mandioca
    substantivo feminino

  1. Rubrica: angiospermas.   arbusto (Manihot esculenta) da fam. das euforbiáceas, nativo da América do Sul, de folhas membranáceas, inflorescências ramificadas e frutos capsulares, cultivado pelas raízes tuberosas, muito semelhantes às do aipim e tb. ricas em amido e de largo emprego na alimentação, embora sejam ger. mais venenosas e freq. us. apenas para a produção de farinha de mandioca, farinha-d’água e ração animal;
  • maniva
    sf (tupi maniýua)

  1. Mandioca.
  2. A rama da mandioca.
  3. Pedaço de rama de mandioca, com um olho, ou mais, destinado ao plantio. V maniba. Var: manaíba.
  • marajoara
    adj (do top Marajó) Que pertence ou se refere à Ilha de Marajó (Pará) s m+f Habitante ou natural de Marajó. sm

  1. Vento nordeste que sopra sobre a Ilha de Marajó.
  2. Bot O mesmo que cajueiro-bravo. Arte m.: arte cerâmica dos índios que habitaram a Ilha de Marajó. Estilo m.: o que se inspira nos motivos da arte marajoara;
  • pacu
    sm (tupi pakú)

  1. Ictiol Nome comum a vários peixes de água doce da família dos Serrasalmídeos, exceto o pacu-banana (Hemiodus unimaculatus), que é um caracídeo. P.-azul: espécie de pacu (Myleus micans). P.-branco: o mesmo que pacutinga. P.-de-corredeira: peixe actinopterígeo, teleósteo (Myletes asterias), da Amazônia; pacuzinho, pacu-de-correnteza. Pl: pacus-de-corredeira. P.-do-amazonas: o mesmo que pacupeba. P.-oerudá: espécie de pacu (Myloplus torquatus).
  2. Tambaqui.
  • palhoça
    substantivo feminino

  1. habitação rústica coberta de palha ou colmo, típica das áreas tropicais, que varia de formato e técnica construtiva conforme a região; palhal, palhar, palheiro
  2. Derivação: por extensão de sentido.   casa rústica, pobre; palhota, palhote
  3. Regionalismo: Portugal.   m.q. 1croça;
  • peixe-boi
    substantivo masculino

  1. Rubrica: ictiologia.   m.q. baiacu-de-chifre (Lactophrys tricornis)
  2. Rubrica: mastozoologia.   design. comum aos mamíferos sirênios, da fam. dos triquecídeos, de corpo arredondado, cabeça pequena, lábio superior profundamente fendido e cauda em forma de remo, larga e arredondada, diferente da dos dugongos, que é entalhada; guarabá, guaraguá, manaí, manati, manatim
  3. Rubrica: mastozoologia.   mamífero da fam. dos triquecídeos (Trichechus inunguis), encontrado em rios e lagos da bacia amazônica, com até 2,8 m de comprimento, corpo cinzento com uma mancha esbranquiçada no peito e com nadadeiras alongadas e sem unhas; peixe-boi-da-amazônia
  4. Rubrica: mastozoologia.   mamífero da fam. dos triquecídeos (Trichechus manatus), encontrado dos E.U.A. ao Nordeste do Brasil, em águas costeiras, estuários e rios, com até 4 m de comprimento e nadadeiras com unhas chatas; peixe-boi-marinho;
  • piracema
    sf (tupi piraséma)

  1. Migração anual dos peixes rio acima, na época da desova.
  2. Reg (São Paulo) Rumor que fazem os peixes, subindo para a nascente do rio, nessa época.
  3. Cardume ambulante de peixes.
  • pirarucu
    substantivo masculino Rubrica: ictiologia. Regionalismo: Brasil. peixe osteoglossiforme da fam. dos osteoglossídeos (Arapaimagigas), da bacia amazônica, incluindo-se o Tocantins e o Araguaia, que pode atingir 2,60 m de comprimento e pesar 160 kg, sendo o maior peixe fluvial de escama; possui o corpo cilíndrico pardo-esverdeado e avermelhado escuro nos flancos; anato, bodeco [Espécie introduzida nos açudes nordestinos em 1940; possui grande valor comercial, sendo salgado em alguns locais e, por isso, chamado de bacalhau brasileiro; sua língua muito áspera é ger. utilizada para ralar o guaraná.]
  • taperebá
    substantivo masculino Rubrica: angiospermas.

  1. m.q. cajá (’fruto’)
  2. m.q. cajazeira (Spondias mombin)
  3. m.q. umbuzeiro (Spondias purpurea)
  4. m.q. umbu (’fruto de Spondias purpurea‘)
  • tijupá
    substantivo masculino

  1. abrigo que se constrói na mata; tajupá, tajupar
  2. Regionalismo: Norte do Brasil.   cobertura, ger. arredondada, de palha, madeira etc., us. para proteger pessoas e/ou cargas nas embarcações; tolda
  3. Regionalismo: Brasil.   cabana com duas vertentes que tocam no chão e que serve de abrigo aos trabalhadores nas roças, seringais e feitorias
  4. Regionalismo: Brasil.   palhoça de índios, menor que a oca
  5. Regionalismo: Brasil.   rancho, choça, choupana
  6. tolda de canoa
  • tipiti
    sm (tupi tepití)

  1. Cesto cilíndrico, tecido de talas de palmeira, em que se mete a massa de mandioca ralada para ser espremida na prensa antes de se levar ao forno e de se tornar farinha.
  2. Reg (Sul) Aperto, embaraço, entalação, negócio difícil, do qual não se pode sair com vantagem;
  • tracajá
    sm (tupi tarakaiá) Herp Nome comum a vários répteis da ordem dos Quelônios, entre os quais a espécie que mais se destaca é Podocnemis cayennensis, que habita a bacia amazônica e mede no máximo cinqüenta centímetros. Os ovos e a carne são muito apreciados.
  • tucumã
    substantivo masculino Rubrica: angiospermas.

  1. design. comum a algumas palmeiras dos gên. Astrocaryum e Bactris, nativas do Brasil
  2. palmeira de até 20 m (Astrocaryum aculeatum), ger. solitária, de estipe com faixas de espinhos negros, folhas ascendentes, inflorescência ereta, e frutos amarelos com tons avermelhados; acaiúra, acuiuru, coqueiro-tucumã, tucum, tucumã-açu, tucumã-arara, tucum-açu, tucumaí-da-terra-firme, tucumãí-uaçu, tucumã-piririca, tucumã-purupuru, tucum-do-mato [Nativa da Colômbia e de Trinidad ao Brasil (AC, AM, PA, RO), é explorada ou cultivada por seu palmito e frutos comestíveis, pelo óleo das sementes, us. em cozinha, e tb. pelas folhas, das quais se extrai fibra de tucum, us. em redes e cordas que resistem à água salgada.]
  3. m.q. tucum (Astrocaryum vulgare)
  4. m.q. tucum-açu (Bactris inundata);
  • tucunaré
    substantivo masculino Regionalismo: Brasil.

  1. Rubrica: ictiologia.   peixe teleósteo, perciforme, da fam. dos ciclídeos (Cichla ocellaris), do rio Amazonas e afluentes, com até 60 cm de comprimento e 4 kg de peso, corpo prateado com três faixas transversais acima da linha lateral e um ocelo na base da nadadeira caudal; lacunari, lucunari, tucunaretinga [Espécie introduzida em açudes no Nordeste e nas represas do Sul do Brasil; sua carne é muito consumida pela população local, e a pele é utilizada para fabricação de couro.]
  2. Rubrica: ictiologia.   peixe teleósteo, perciforme, da fam. dos ciclídeos (Cichla temensis), encontrado na bacia amazônica e introduzido nos açudes nordestinos; sarabiana, tucunaré-pinima, tucunaré-putanga
  3. Rubrica: angiospermas.   arbusto (Drepanocarpus paludicola) da fam. das leguminosas, subfam. papilionoídea, que ocorre em terrenos inundados da Amazônia, de ramos pilosos, pequenos folíolos pilosos na face inferior, flores em racemos e legumes diminutos e coriáceos, com uma semente; tucunaré-envira
  4. tipo de embarcação us. na Amazônia
  • tucupi
    substantivo masculino Rubrica: culinária. Regionalismo: Pará. espécie de molho feito com água-de-goma e pimenta, que acompanha vários pratos da cozinha do Norte do Brasil Ex.: pato ao t;
  • uxi
    sm (tupi uxí) Bot Árvore da família das Rosáceas (Uxi umbrosissima), de fruto medicinal;

Fontes: Dicionários Houaiss e Michaelis de Língua Portuguesa

Lendas, “Curupira”

Postado por Vanessa Rodriguesem 15 de Novembro de 2009

curupira

Não há comunidade que não fale nele. Descrevem-no como a mãe da natureza, invisível, guardião da floresta que não deve nunca ser desafiado, pois é um ser vingativo que pode causar graves problemas ao prevaricador.

O Curupira é um ser que faz parte do lendário amazônico há centenas de anos e cujas histórias passaram de geração em geração. Guardião das florestas e dos animais, possui traços de índios, cabelo de fogo e os pés virados para trás.

Esse ser é o protetor daqueles que sabem se relacionar com a natureza, utilizando-a apenas para a sua sobrevivência. O homem que derruba árvores para construir sua casa e seus utensílios, ou ainda, para fazer o seu roçado e caçar apenas para alimentar-se, tem a proteção do Curupira. Mas aqueles que derrubam a mata para exploração ilícita, os que caçam indiscriminadamente, têm no Curupira um terrível inimigo e acabam caindo nas suas armadilhas.

Para se vingar-se, o Curupira transforma-se em vários animais de caça e outros seres animados. Pode ser uma paca, onça ou qualquer outro bicho que atraia os caçadores para o meio da floresta, fazendo-o perder a noção de seu rumo e ficar dando voltas na selva, retornando sempre ao mesmo lugar.

Outra forma de atingir os maus caçadores é fazendo com que sua arma não funcione ou fique incapaz de acertar qualquer tipo de alvo.

Na interpretação de antropólogos e historiadores, a lenda do Curupira revela a relação dos índios brasileiros com a mata. Não é uma relação de exploração, de uso indiscriminado, mas de respeito pela vida.

Fonte: “Portal Amazônia”

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