Imagens da Amazónia

Postado por Vanessa Rodriguesem 25 de Janeiro de 2010


Imagens da Amazónia, com o cineasta Jorge Bondanzky, durante as oficinas de video aos alunos do Curso de Licenciatura para Professores Indígenas do Alto Solimões.

Amazonas Rio-Mar

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Novembro de 2009

amazonasrioPublicado no Diário de Notícias, 29 Nov’ 2009

Por Vanessa Rodrigues, Manaus

De Belém a Manaus são seis dias pelo Amazonas. Viagem a bordo de um navio que carrega viajantes à procura da Amazónia e gente a recomeçar uma nova vida

O navio mercante Santarém recolhe a âncora em Belém com três horas de atraso. Já há música alta na popa e cervejas na mão dos viajantes. Alguns lançam latas ao rio. O comandante Douglas (um norte-americano da Georgia que se apaixonou por uma brasileira, casou, separou-se e não saiu mais do Brasil para ficar perto da filha) avisa num português delicado, que agora é de vez. A viagem até Manaus já começou, pede desculpa pelo atraso e diz que é “normal”.

O que ele quer dizer, na verdade, é que os próximos seis dias terão 1300 km, com o rio Amazonas a servir de estrada, e pouco mais de duzentos passos, por dia, em corpo confinado: camarote-proa-estibordo-bombordo-popa. Haveria, porém, outras coisas nesta travessia Belém-Manaus – a mais famosa e movimentada da Amazónia – que ele não sabia que queria dizer. Coisas que estavam já nas entrelinhas e que, também, são quotidiano “normal”: um motor avariado que nos roubou um dia de viagem, centenas de bichos nocturnos que invadiriam o barco, sujidade, a pobreza da gente que o barco carrega, a comida tipo ração e aquele cheiro pestilento vindo das casas de banho.

Em frente, estão amarradas as dezenas de redes. É lá que dormem os que não têm dinheiro para pagar o bilhete de barco (é também lá que comem, defecam e se roçam em promiscuidade com a rede do lado) ou alguns estrangeiros iludidos com a ideia de viajar pelo Amazonas de rede (que balança violentamente sempre que o rio se enfurece).

Ao fim de seis dias o odor torna-se escatológico, insuportável. E o romantismo da viagem torna-se uma tortura. (A solução para enganá-lo ainda é o camarote). A mulher da limpeza atira com um líquido desinfectante lá para dentro. Não tem coragem de entrar para limpar. Não há controlo, nem denúncias da falta de higiene, apesar do cartaz na parede: “Disque denúncia”. Tudo é “normal”.

Lá fora, onde o cheiro é quente e doce, o Amazonas é uma valsa lenta. Nas margens, há crianças a brincar e gente que se lava. E há pequenas casas ribeirinhas de madeira que parecem de bonecas, assentes em estacas e que se chamam palafitas. Serão centenas, isoladas, até Manaus. Quem conhece os segredos deste rio conta que tem personalidade forte. É temperamental: desnuda margens e cobre de águas barrentas plantações inteiras. Depois, é um Rio-Mar vaidoso. Muda a paisagem por onde passa, quando quer, num vaivém de cheia e seca. No início deste ano fez um pacto com as chuvas e fustigou por mais de dois meses as margens, deixando várias famílias na miséria. Já se redimiu dando peixe abundante. Tem, ainda, a mania das grandezas. De uma margem à outra, pode chegar aos 50 quilómetros, por isso é o maior e o mais extenso do mundo. E quando menos se espera, ele sai dessa condição de prepotente e cai num confortante silêncio.

Como o daquela noite, apesar do ambiente pesado. Havia qualquer coisa estranha nos homens que olham de esguelha para o bolso dos outros à espera que se distraiam para surripiarem. Homens que viajam com pouco no bolso para começar uma nova vida. Como o Sandro, que está zonzo, bêbado. Diz que em Boa Vista, Roraima, é que há dinheiro. É lá que se vai fazer gente, para “quem sabe” realizar o sonho de ser polícia. Depois chora, bebe mais um gole de cerveja e conta que já foi travesti em Brasília, onde nasceu. Confessa que há “um homem” no barco “a recrutar para o garimpo de ouro”, ilegal. Ele não vai. Tem o corpo “seco”, fraco e “agora é de vez”, aquela viagem é o “recomeço”. “Acredita em mim?”

Vender de canoa

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Novembro de 2009

Publicado no Diário de Notícias, 29 Nov’ 2009

canoa01Negócios que vêm de canoa pelo Amazonas

Por V.R., Manaus

Ela está na margem à espera que o barco passe. Apressa-se para o alcançar. E quando se aproxima, essa mulher de cabelos esguedelhados e corpo robusto agarra num gancho de ferro do tamanho da mão dela, encaixa-o no pneu que serve de bóia e, num ápice, atraca a canoa ao navio.

A criança que há pouco remava com ela, freneticamente, na pequena canoa, para alcançar a embarcação, entra no Navio Mercante Santarém que faz o trajecto Belém-Manaus, no norte do Brasil, e mostra uma caixa de esferovite.

Começa o pregão ensaiado. Tem camarão e uma polpa cor de beringela feita do fruto açaí para vender. Outras canoas começam a atracar da mesma forma. E uma mulher dá o alarme no barco. “Cuidado com essa gente que entra. Alguns são ladrões e eu já fui assaltada por eles numa travessia”.

A empresa do navio deixa que entrem. Muitos passageiros reclamam e sentem-se inseguros com estranhos a circular no barco. Feito o negócio, saem. As canoas que atracam oferecem o mesmo cardápio, outras com extras de banana frita ou castanha de caju. Há pequenas embarcações que nada vendem e ficam só perto do “Santarém” à espera que alguém atire comida, dinheiro ou roupa.

Lendas, Amazonas

Postado por Vanessa Rodriguesem 28 de Novembro de 2009

amazonas01Há controvérsias sobre quem realmente terá visto, pela primeira vez as guerreiras Amazonas, uma tribo de mulheres que habitava o Rio Amazonas,  então apelidado de “mar dulce”, por exploradores espanhóis. Há historiadores que afirmam que o navegador espanhol Orellana não combateu as Amazonas, como se conta recorrentemente, mas sim uma tribo de índios de cabelos compridos, auxiliados, na guerra pelas mulheres.

Frei Gaspar de Carvajal, que participou da expedição de Orellana, dá testemunho da existência dessas mulheres guerreiras. Esses relatos gaanham força na voz dos índios que descrevem a existência de uma tribo de mulheres guerreiras. Segundo se lê no “Portal da Amazônia”, os índios não falavam em “Amazonas”, até porque “não sabiam o que significava”.

Os índios falavam, sim, em Icamiabas, que significa “mulheres sem maridos”. As Icamiabas viviam no interior da região do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por leis próprias. A região era denominada por estes aventureiros de País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a dos Guacaris.

De acordo dom pesquisas do folclorista Alceu Maynard Araújo, nesse Reino das Pedras Verdes, realmente, viviam em comunidade as Amazonas, mulheres guerreiras e trabalhadoras: caçavam, pescavam, faziam cerâmica, redes, tecidos; trabalhavam na roça, faziam armas.

A liderança dessa tribo estava a cargo de uma única mulher, que tinha também a responsabilidade religiosa. O reinado dessa líder era curto: só as virgens enter os 20 e os 25 anos poderiam disputar a liderança das Amazonas.

A cada cinco luas cheias, no mês de Abril (ou seja um período de 5 anos) haveria renovação na chefia da tribo.

Mas por que razão, esse lugar, se chamava Reino das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os muiraquitãs, as famosas pedras verdes… Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam.

Depois do acasalamento, mergulhavam num lago chamado Iaci-uaruá (Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria-prima com que moldavam os muiraquitãs. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor… Os que recebiam, usavam orgulhosamente pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam os filhos para os Guacaris… De qualquer forma, quando se pronuncia Amazónia, não se pode deixar de pensar em muiraquitãs e em mulheres guerreiras…

Era no Lago Verde que as Amazonas faziam seus muiraquitãs

Motivos semelhantes levam esse grande contingente populacional a se deslocar para Alter-do-Chão, uma vila turística localizada na margem direita do rio Tapajós e ligada por via rodoviária à cidade de Santarém.

O rio Tapajós possui características únicas entre os afluentes do Amazonas – suas águas são cristalinas – e, em frente à vila, com a descida das suas águas durante o verão, surge uma lagoa cor de esmeralda cercada por bancos de areia branca apropriadamente denominada de “Lago Verde”. O Lago Verde, também chamado de Lago dos Muiraquitãs, era ponto de passagem obrigatório das índias Amazonas.

Referência: Amazonas foi o nome dado às mulheres guerreiras da Antiguidade que habitavam a Ásia Menor e cuja existência alguns historiadores consideravam um mito. Segundo a lenda, elas removiam um dos seios para melhor envergar o arco, deixando o outro para amamentar seus rebentos, que, se nascessem do sexo masculino, eram impiedosamente sacrificados. Amazonas, aliás, quer dizer sem seios (“mazos”) em grego. No século XVI, essa designação foi dada a mulheres com as mesmas características, cuja existência histórica é discutida e que combaterem os conquistadores espanhóis no baixo-Amazonas.

Na realidade, isso pode ser o efeito do sol penetrando as águas transparentes e iluminando o fundo do lago, rico em nefrita.

Fonte: Portal da Amazônia

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