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Sinais na TSF

Postado por Vanessa Rodriguesem 14 de Abril de 2010

Quatro meses pela Amazónia brasileira, na antena da TSF, à conversa com o João Paulo Meneses, no dia 15 de Abril, no programa “Mais Cedo ou Mais Tarde”

OUVIR AQUI

Macunaíma

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Abril de 2010

macunaimahome1Aique!!!!

“Ai, que preguiça!”

Primeiro nasceu bicho-mudo, depois virou bicho-parasita-folgado; cresceu sendo preguiça-em-galho-de-carapanaúba, até se tornar cobra-malandra-espiando-gente, e depois jacaré-oportunista; veio a idade adulta e eis senão quando ele, Macunaíma, o herói (não-herói-anti-herói) criado pelo escritor brasileiro Mário de Andrade (1893-1945), em 1928, e parido bicho-feio no meio da selva amazónica, foi digno da glória escrota: tornou-se ermita-gente e safado-homem, sem carácter. Ahahah! Eis o herói do povo brasileiro; a pedra fundamental da cultura enraizada:  a da malandragem; a da covardia; a da impunidade. É isso! Nada, nada: não é nada disso. Não o leve a sério: Macunaíma é um brinquedo! É nacionalismo crítico! Um pouco de Tropicalismo recém-nascido, antes de sêlo – e que Joaquim Pedro de Andrade adaptaria para cinema em 1969, sob o pano da estética tropicalista. Não esquecer: “Macunaíma” é uma obra surrealista; é uma crítica ao Romantismo, resgatando temas da mitologia indígena, do folclore amazónico. É uma rapsódia! Lido de perto, parece que lhe ouvimos os bichos do meio do mato…


No fundo, foi isso que a Iara Rennó fez. Em 2008, a cantora brasileira (filha do pesquisador musical, músico e letrista Carlos Rennó e da cantora Alzira Espíndola) inspirou-se em Andrade para lançar “Macunaíma, Ópera Tupi”.

Iara Rennó 1

E fica aqui:

Excerto do livro “Macunaíma”

macunaimalivro

i macunaíma

“no fundo do mato-virgem nasceu macunaíma, herói de nossa gente. era preto retinto e filho do medo da noite. houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. essa criança é que chamaram de macunaíma. já na meninice fez coisas de sarapantar. de primeiro: passou mais de seis anos não falando. sio incitavam a falar exclamava: if — ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada.”] ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, maanape já velhinho e jiguê na força de homem. o divertimento dele era decepar cabeça de saúva. vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, macunaíma dandava pra ganhar vintém. e também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. no mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. nos machos guspia na cara. porém respeitava os velhos, e freqüentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. as mulheres se riam muito simpatizadas, falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta”, e numa pagelança rei nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.

nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e macunaíma principiou falando como todos. e pediu pra mãe que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. a mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. macunaíma choramingou dia inteiro. de noite continuou chorando. no outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que a mãe principiasse o trabalho. então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse ele no mato passear. a mãe não quis porque não podia largar o paneiro não. e pediu pra nora, companheira de jiguê que levasse o menino. a companheira de jiguê era bem moça e chamava sofará. foi se aproximando ressabiada porém desta vez macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. a moça carregou o piá nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. a água parará pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. o longe estava bonito com muitos biguás e biguatingas avoando na estrada do furo. a moça botou macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!… e pediu pra sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. andaram por lá muito.quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. era que o herói tinha brincado muito com ela. nem bem ela deitou macunaíma na rede, jiguê já chegava de pes-car de puçá e a companheira não trabalhara nada. jiguê enquizlou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. sofará agüentou a sova sem falar um isto.jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. não vê que encontrara rasto fresco de anta e queria pegar o bicho na armadilha. macunaíma pediu um pedaço de curauá pro mano porém jiguê falou que aquilo não era brinquedo de criança. macunaíma principiou chorando outra vez e a noite ficou bem difícil de passar pra todos.no outro dia jiguê levantou cedo pra fazer arma-ilha e enxergando o menino tristinho falou:— bom-dia, coraçãozinho dos outros.porém macunaíma fechou-se em copas carrancudo.

— não quer falar comigo, é?

— estou de mal.

— por causa?

então macunaíma pediu fibra de curauá. jiguê olhou pra ele com ódio e mandou a companheira arranjar fio pro menino, a moça fez. macunaíma agradeceu e foi pedir pro pai-de-terreiro que trançasse uma corda para ele e assoprasse bem nela fumaça de petum. quando tudo estava pronto macunaíma pediu pra mãe que deixasse o cachiri fermentando e levasse ele no mato passear. a velha não podia por causa do trabalho mas a companheira de jiguê mui sonsa falou pra sogra que “estava às ordens”. e foi no mato com o piá nas costas. quando o botou nos carurus e sororocas da serrapilheira, o pequeno foi crescendo foi crescendo e virou príncipe lindo. falou pra sofará esperar um bocadinho que já voltava pra brincarem e foi no bebedouro da anta armar um laço. nem bem voltaram do passeio, tardinha, jiguê já chegava também de prender a armadilha no rasto da anta. a companheira não trabalhara nada. jiguê ficou fulo e antes de catar os carrapatos bateu nela muito. mas sofará agüentou a coca com paciência.no outro dia a arraiada inda estava acabando de trepar nas árvores, macunaíma acordou todos, fazendo um bué medonho, que fossem! que fossem no bebedouro buscar a bicha que ele caçara!… porém ninguém não acreditou e todos principiaram o trabalho do dia.macunaíma ficou muito contrariado e pediu pra sofará que desse uma chegadinha no bebedouro só pra ver.

a moça fez e voltou falando pra todos que de fato estava no laço uma anta muito grande já morta. toda a tribo foi buscar a bicha, matutando na inteligência do curumim. quando jiguê chegou com a corda de curauá vazia, encontrou todos tratando da caça, ajudou. e quando foi pra repartir não deu nem um pedaço de carne pra macunaíma, só tripas. o herói jurou vingança.no outro dia pediu pra sofará que levasse ele passear e ficaram no mato até a bôca-da-noite. nem bem o menino tocou no folhiço e virou num príncipe fogoso. brincaram. depois de brincarem três feitas, correram mato fora fazendo festinhas um pro outro. depois das festinhas de cotucar, fizeram a das cócegas, depois se enterraram na areia, depois se queimaram com fogo de palha, isso foram muitas festinhas. macunaíma pegou num tronco de copaíba e se escondeu por detrás, da piranheira. quando sofará veio correndo, ele deu com o pau na cabeça dela. fez uma brecha que a moça caiu torcendo de riso aos pés dele. puxou-o por uma perna. macunaíma gemia de gosto se agarrando no tronco gigante. então a moça abocanhou o dedão do pé dele e engoliu. macunaíma chorando de alegria tatuou o corpo dela com o sangue do pé. depois retesou os músculos, se erguendo num trapézio de cipó e aos pulos atingiu num átimo o galho mais alto da piranheira. sofará trepava atrás.

o ramo fininho vergou oscilando com o peso do príncipe. quando a moça chegou também no tope eles brincaram outra vez balanceando no céu. depois de brincarem macunaíma quis fazer uma festa em sofará. dobrou o corpo todo na violência dum puxão mas não pôde continuar, galho quebrou e ambos despencaram aos emboléus até se esborracharem no chão. quando o herói voltou da sapituca procurou a moça em redor, não estava. ia se erguendo pra buscá-la porém do galho baixo em riba dele furou o silêncio o miado temível da suçuarana. o herói se estatelou de medo e fechou os olhos pra ser comido sem ver. então se escutou um risinho e macunaíma tomou com uma gusparada no peito, era a moça. macunaíma principiou atirando pedras nela e quando feria, sofará gritava de excitação tatuando o corpo dele em baixo com o sangue espirrado. afinal uma pedra lascou o canto da boca da moça e moeu três dentes. ela pulou do galho e juque! tombou sentada na barriga do herói que a envolveu com o corpo todo, uivando de prazer. e brincaram mais outra vez. já a estrela papacéia brilhava no céu quando a moça voltou parecendo muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. porém jiguê desconfiado seguira os dois no mato, enxergara a transformação e o resto. jiguê era muito bobo.

teve raiva. pegou num rabo-de-tatu e chegou-o com vontade na bunda do herói. o berreiro foi tão imenso que encurtou o tamanhão da noite e muitos pássaros caíram de susto no chão e se transformaram em pedra.quando jiguê não pôde mais surrar, macunaíma correu até a capoeira, mastigou raiz de cardeiro e voltou são. jiguê levou sofará pro pai dela e dormiu folgado na rede.”

Lendas Vivas

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Novembro de 2009

[Dona Martinha de Suruacá conta histórias da Comunidade]

Há botos que encantam mulheres, seres que assombram a mata e cobras gigantes que derrubam as embarcações. Histórias, mitos e lendas da Amazónia sussurradas na primeira pessoa para SinaisDaGente.

donamartinha

Dona Martinha recorda lendas, histórias e “visagens” da comunidade de Suruacá, no Rio Tapajós, no médio Amazonas.

Depois de um almoço de peixe de rio e farinha de mandioca ela não resistiu a contar as histórias que lhe tiraram, muitas vezes, o sono, na adolescência. A Lenda do Boto, uma das mais importantes do folclore amazónico é o tormento da mulher da região. Dizem que os botos se transformam em homens belíssimos que seduzem as moças. Que elas ficam enfeitiçadas. Quando elas aparecem grávidas e não se sabe quem é o pai, a dúvida desfaz-se porque, afinal, só pode ter sido o boto.


Lenda do Boto


Ninar, Povo Mura

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Novembro de 2009

mura2Ao contrário do que “contam” muitos livros, os índios Mura não foram dizimados, não se extinguiram e resistiram contra quem os queriam destruir e contra as doenças que enganaram muitos parentes. O sangue da herança cultural dessa etnia guerreira e resistente, continua a exaltar-se pelo direito à terra, nas aldeias indígenas ao redor de Novo Céu, no Município de Autazes. Em 2008 um grupo de professores indígenas resolveu resgatar a cultura, saberes, tradições e costumes e com a ajuda de parceiros e do Ministério da Cultura fez um DVD e publicou um livro com a actualidade do povo.

Como por exemplo esta música de ninar…

O Carimbó, Marapanim

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Setembro de 2009

O nome, em língua indígena tupi, refere-se ao tambor (o carimbó) que marca o ritmo. São batidas que lembram o caribenho, mas também o folclore português, o gingado caboclo, a percussão afro, as melodias indígenas, as raízes musicais do Brasil. O carimbó é património imaterial, é sedução, pujança e escorrer de alma suada. E agora quer ser património imaterial do Brasil. Marapanim, a norte de Belém no Pará, reivindica a origem dessa musicalidade… O ritmo influenciou a lambada e o zouk. Sinais da Gente esteve lá e falou com o Grupo “Flor do Mangue”. Kayto explica o que é, afinal, o Carimbó, os ritmos e magia…

Seu nome, em tupi, refere-se ao tambor com o qual se marca o ritmo, o carimbó.

Ivan Cardoso, Belém

Postado por Vanessa Rodriguesem 24 de Agosto de 2009

“Moleque tinhoso” é o nome desta música melodia da autoria do cantor e compositor paraense Ivan Cardoso.  Este áudio foi registado no dia 20 de Agosto nas docas de Belém, no Pará, Brasil, enquanto o músico cantava no Marujo´s bar…

Tambor de Mina#1

Postado por Vanessa Rodriguesem 22 de Agosto de 2009

Pai Luiz é o mestre de cerimónias, em Belém, Pará, do “Tambor de Mina”, religião afro-brasileira criada pelos escravos do Maranhão e Amazónia. Aqui o caboclo é a entidade que “vai entrando” no pai de santo, para curar os males de espírito. É a religião que tem Marquês de Pombal e Dom Sebastião como entidades “encorporadas”. Segundo o Pai Luiz ambos foram “encantados” – passaram o portal do encantamento – e contam como passaram para outro mundo.

o mundo começa aqui…

Postado por Vanessa Rodriguesem 18 de Agosto de 2009

sinaisdagenteUm pouco de nós e das gentes que se fazem, fizeram, hão-de ser… Ele começa exactamente do ponto de partida onde estamos. Dos contextos de resgate de sinais que são pó, água, rugas entranhadas na pele que dançam, cantam, sentem, são. O mundo começa aqui, quando a voz nos falha e voltamos a resgatá-la; quando a ouvimos de outros que nos vão dizer que também o são…

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