Arquivo de ‘geo.grafias’ Categoria

Guerreiros de Selva

Postado por Vanessa Rodriguesem 6 de Junho de 2011

selvaaaNão dormem, nadam com jacarés, rastejam na mata da Amazónia e sonham com uma onça no peito. A ONU considera-os «os melhores do mundo». A NS’ acompanhou-os durante dois dias. Os guerreiros do exército do Brasil fazem mesmo tudo por ela: «Selvaaa!»

(LER MAIS) Guerreiros de Selva-VanessaRodrigues

Publicado a 4 de Junho de 2011 na revista “Notícias Sábado”, jornal Diário de Notícias. Reportagem de Vanessa Rodrigues

janelas, s tomé

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Junho de 2011

ilha léve-léve

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Junho de 2011

stooVestida de verde opulento, bananeiras, mãe de cacau e café das roças, São Tomé é ilha fértil, paradisíaca, de generosa gente e tempo suspenso. Praias desertas, tropicalidade e savanas a tombar em mar; de um crioulo adocicado a agarrar linguajar português. Ainda respira contrastes, de terra social por cumprir, num lento caminhar de autonomia. Mas quem lá vai, atestamos, fica, assim, léve-léve! LER MAIS EM ALMA DE VIAJANTE

cacau-doce

Postado por Vanessa Rodriguesem 2 de Junho de 2011

sttt

[crónica]

Negritude é pele grossa, que adensa o calor e suaviza a humidade tropical quando nela assenta. E a pele tem camadas mais porosas, como a dele. De uns alvos dentes, luminosos: contraste com esse manto de derme tropical. Pele chocolate. Alexandre, dos Santos.

Apresenta-se: que é tudo que tem para dizer, antes de começar a dizer. Gostamos de antecipar o fim, no princípio de começarmos. E mal acabamos de chegar: o início da ponte ainda está lá ao fundo, quando realmente começa a acabar a roça Agostinho Neto, nesta São Tomé mais a norte de ilha.

Uma filha, Xandinha. Alexandre 21 anos num corpo de homem feito.

- Ligaste o microfone? Está ligado?

Sim, ligamos. Podemos gravar? Uma conversa. Queres ouvi-la, depois? Um bocadinho? Ver como fica a voz no gravador?

Adensa as palavras e repete-se: “muito, muito, muito”. Talvez falasse do sol quente, da brisa impertinente a soprar-lhe no corpo; cruza os braços, endurece o olhar; sacode o ar (”sim, a vida aqui é muito, muito, muito difícil; e rico não quer saber). Vai ver se consegue ir na roça, ainda. Vai ver se consegue dobras para ir logo, na discoteca. Dançar funaná?

- É, sou filho de cabo-verdianos, adoro funaná.

Quer saber-me: tens filhos? Onde moras? Como está lá a tua terra?

Não acredita em crise. Lá, na minha, terra, acha,  será sempre melhor que a miséria: corpo com sol quente na roça, mãos endurecidas de enxada, pés duros de caminhada. Que europeu sim, vive melhor. Que um dia hei-de ter filhos. Que devo morar num lugar bonito. E o resto Alexandre? Cidade é coisa violenta: para a cabeça, para a alma, para uma vida acelerada. Queres mesmo saber-me?

-Já te vais? Prazer em conhecer-te. Até uma próxima, quem sabe.

Véspera de regressar à cidade, ao meu país, para lá, a minha terra, a da crise. Pequeno-almoço:

-Tens uma pessoa à tua espera na recepção do hotel.

- Desculpa ter vindo assim sem avisar. Queria ver-te uma última vez. Posso nunca mais te ver. Desculpa-me.

Não há nada a desculpar nos genuínos gestos de ternura. Leves de abnegação. De princípio de vida, quando achamos que ali é um fim. O princípio de vida é quando achamos que ela terminou. Está ali, depois de vivência. E alguém a esperar-me numa cidade desconhecida, no meu corpo de passagem, itinerante, é sempre recomeço. Sempre, parece, chegamos ao lugar onde nos esperam, em genuínos gestos, bonitos, leves, abnegados. De gente a gostar de gente só porque sim.

- Queria dar-te um presente da minha terra. Mereces. Para que lembres. E não esqueças.

É que lembrar e não esquecer são primos muito afastados. Podemos tropeçar sempre num e falhar outro.

É quase noite. Já é logo. O fim do dia, quando príncipio de outro está mesmo, quase, “muito, muito, muito” a começar. Começamos?

- Vim da roça de propósito para te entregar. Desculpa ter chegado atrasado. Não posso ficar muito tempo. Pedi ao meu puto para ir buscar cacau à roça, para ti.  E esta escultura fui eu que a fiz. E desculpa, estou envergonhado. Pedi à minha irmã uma saca. E ela pôs o cacau nesta de peixe. Estou constrangido.

- Vieste de propósito entregar-me isto, de longe, sem me conheceres. Já te disse e agradeço: não se pede desculpa por genuínos gestos de ternura e afecto. Eu não sei como te retribuir. Muito Obrigada.

- Um dia, eu sei, irei a Portugal. E vou-te procurar: até ao inferno, ao céu, ao fim do mundo, onde estiveres. Mereces.

Vanessa Rodrigues

LER MAIS SOBRE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE NA ALMA DE  VIAJANTE

Manaus, 40 graus

Postado por Vanessa Rodriguesem 18 de Fevereiro de 2011

boto

Do adro da Matriz à Ponta Negra, há creme de cupuaçu, Guaraná Magistral, igrejas que são colo e aconchego de vida. Há calor-inferno. Cidade Aleluia, cidade crónica, cidade terminal. Viagens a pé, Cirandas de autocarro.

Por Vanessa Rodrigues

Sai uma arca frigorífica da Kaiser da Igreja Matriz de Manaus. Vende-se Coca-Cola à porta. Magistral, também, esse Guaraná do Amazonas. Ela vem de top transparente, assim preto rendinhas, legging cor-de-laranja, roçado e sujo na bunda. Meneia a anca. A tribal dança feminina. Olha gulosa o rapaz sentado na escada. Lá atrás filmam a Igreja. E o carro de Carnes Fino Corte espera, aguarda. Reserva-se, entretanto, comida num placard ali tão perto, numa praça que quer ser adro de Igreja matriz, mas empresta em vez a uma esplanada improvisada para a festa. Haverá festa, portanto por ali. Por isso, também se reserva comida: 3621-0443, o DDD é 92, Manaus, Amazonas. Quanto de vida há em cada canto do mundo, num segundo? Nos minutos vagarosos da Amazónia? Nos minutos de vida improvisada. Pó. Há pó. E quantos segundos são tudo na mesma escada, na mesma porta de Igreja de onde sai a arca frigorífica. Este homem passa de novo agora com camisola levantada. A barriga está nua. A nudez da barriga é sinal de festa. Há festa. Haverá festa. O palco está montado, por isso, falta o entretenimento para a malta. Já limpaste o palco? Oh, mulher, que ali limpas o palco. Varres, devagarinho. Quem te sujou o palco? Para que festa? Ah. O placard da comida que se reserva: Prato completo a $ 55; Arroz, Vatapá, Frango desfiado, farofa, Tacacá. Lá tem. Vinagrete, ora, a três reais. Fatia de Pudim ou Brigadeiro a um real. Fatia de bolo de macaxeira a dois reais. Pode encher-se a boca só a dizê-los: Macaxeira, Tacacá, Vatapá. E há porção de três salgadinhos para enganar a fome. Creme de Cupuaçu…Banana Fruta. OBS.: pratos sujeitos a alteração sem aviso prévio. A comida pode mesmo ser um imprevisto.

Há música. Agora há música. A “louvar a Deus, Jesus Evangélico” na praça ali em baixo, antes do adro que é esplanada, antes, muito antes de se subir a escada onde está sentado o rapaz que a outra, a do legging laranja-roçado, galou. Há folhas secas, tão secas, no chão do jardim onde se louva a Deus.

Destak. Calçados, Algodão. Lojão TEM-TEM. Ah, tem. Como tem. Uma cidade enlatada como Manaus há-de ter tudo: tropicalidade a ser urbana, interior a querer ser genuíno – e o porto ali ao longe mal-cheiroso! Welcome to Manaus. Na hora certa para você: Condomínio Ajuricaba; Falcony´s Piercing; Luane compra e venda de electrodomésticos, componentes eletrônicos. E o 126 vai para o centro, terminal 1, Via conjunto Manoa; Punta Negra, Guaraná Real. Jolie Madame: Ótica e Jóias Óris. Hotel Paracatu. Tem promoções? Banheiro? Água quente? Cama de roupa lavada? Colchão como deve de ser? Assembleia de Deus dias de culto. Educandos. Cachoeirinha, Centro Educacional Santa Terezinha. Gasoduto-Coari-Manaus. Forró da Cabeça. Escola Estadual Euclides da Cunha (Os Sertões não estão um pouco longe?). Transmanaus. Vila Felicidade. Marapatã. “Prefeitura de Manaus mostrando trabalho” – ah o Mundial a semear o marketing. Espírita vidente Dona Valda, Tarô, Búzios. Pernoite com pole-dance por apenas $68; Banda GLS VIP com Realização de Bruna La Close, no Rio Negro Club. Shows de Drag Queen…A parede da casa de banho do Shopping: “A prática de ato obsceno em lugar público, aberto ou exposto ao público é passível de pena de detenção de 3 meses a 1 ano: art. 233 do Código Penal”. Igreja Pentecostal Santuário dos Milagres. Fim de Linha.

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