Arquivo de Abril de 2010

missão selva|fab

Postado por Vanessa Rodriguesem 30 de Abril de 2010

tarântulas|selva

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Abril de 2010

MST|pb

Postado por Vanessa Rodriguesem 26 de Abril de 2010

selva|amazónia

Postado por Vanessa Rodriguesem 22 de Abril de 2010

Sinais na TSF

Postado por Vanessa Rodriguesem 14 de Abril de 2010

Quatro meses pela Amazónia brasileira, na antena da TSF, à conversa com o João Paulo Meneses, no dia 15 de Abril, no programa “Mais Cedo ou Mais Tarde”

OUVIR AQUI

Casa|Farinha

Postado por Vanessa Rodriguesem 6 de Abril de 2010

FAB

Postado por Vanessa Rodriguesem 6 de Abril de 2010

Tecnobrega|Pará

Postado por Vanessa Rodriguesem 4 de Abril de 2010

“Aí amigo, esse é o melhor som do Pará”

Ponha o volume no máximo, isto é pirataria “legal”. Isto é o grande sucesso no estado brasileiro do Pará. Isto é tecnobrega: música pimba, sintetizada, com sons da pop internacional

por Vanessa Rodrigues, Publicado em 23 de Março de 2010

Direitos Reservados

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Jornal I

O carro entra na pequena praça, veloz. O motor ronca, arrasta-se estrondoso, como se esperasse a ordem para a partida num rali. Zás: o condutor trava a fundo até os travões chiarem, pára no meio da praça, sai do carro, abre a mala e, com o comando na mão, liga a aparelhagem. Volume no máximo: as colunas de som palpitam sons sintetizados. “Super Pop, Super Pop, Jogue a mão para cima, bate palma e faz o esse/ DJ Ery: eu tô fora, DJ Juninho: olhar de bobo, SUPER POP.” Mal se ouve a Soani resmungar. “Estava tudo tão sossegado e já vai começar esta gritaria.”

Do burburinho de gente ao pico dos decibéis das colunas da mala do carro, a gritaria a que ela se refere, intolerante, é o som do sucesso desde 2003 no Pará, Brasil. Chama-se tecnobrega: mistura sons do brega dos anos 80 (o pimba brasileiro) com melodias da pop internacional sintetizadas (Britney Spears, Beyoncé), latino-americanos (Shakira) ou ainda do forró nordestino. As letras são depois reinventadas, originais. Há, por exemplo, uma versão do “Beat It” do Michael Jackson: “Firme/Firme/Firme/Nessa noite eu vou estar firme”. Ou se gosta muito, ou se odeia.

Era domingo à noite, daquela vez, com Outubro já no fim: a pequena praça de Curuçá, no Interior Norte paraense, no Brasil, tinha uma roda gigante, carregando crianças eufóricas de cada vez que descia, néons de feira popular, caipirinhas, cerveja e guaraná fresco. A Soani Melo, esta paraense de traços indígenas, estava muito irritada. “Essa galera do tecnobrega é incrível. Param o carro em todo o lado. Põem o volume no máximo e obrigam-nos a ter de ouvir essa música horrorosa, que começa sempre da mesma maneira.” Primeiro uma batida electrónica repetida tipo sample de acompanhamento de órgão, depois sintetizadores e uma voz melada. Naquela noite, outro carro com o volume ainda mais alto e uma voz metálica, gravada, disputava a praça: “E aí amigo, tá indo embora; derrotado? Este é o melhor som do Pará. Ahahahahaha!”

Este final de semana “DJ Roberto vai arrasar”

O “verdadeiro som” é ao fim–de-semana. Há cartazes espalhados e carros com megafone a circular nas vilas. É no mercado de espectáculos que os DJ de tecnobrega ganham dinheiro. É “pirataria institucionalizada”, aprova o DJ marajoara Roberto Penante, que trabalha numa loja de electrodomésticos durante a semana, no centro de Soure, na ilha do Marajó (no estado do Pará) e, ao fim-de-semana, “arrasa a casa de shows de Salvaterra” – outra cidade principal da ilha. “O negócio é o seguinte: a galera põe várias músicas num site público, você baixa as músicas, pega em seu programa e remistura os sons.”

Os CD vendem-se nas ruas, pirateados, a pouco mais de dois euros; ou gravam–se entre amigos. Ninguém pensa em direitos de autor. “O negócio é livre.” São milhares de músicas por mês. O computador do Roberto tem centenas de pastas com novidades.

Segundo um estudo dos antropólogos Ronaldo Lemos e Oona Castro (”O Pará reinventando o negócio da música”) o tecnobrega, “mais do que um estilo musical é um mercado que criou novas formas de produção e distribuição”, com o uso de novas tecnologias, em que “o consentimento à reprodução a impede de ser considerada uma actividade estritamente ilegal”. Traduzindo: é um modelo de negócio “aberto, viável e sustentável” que “resiste à indústria fonográfica tradicional”: os artistas renunciam aos direitos em troca de divulgação. “Mesmo os sectores conservadores e os media tiveram de se curvar perante o sucesso fenomenal do tecnobrega.”

Livre de produtoras

O segredo do negócio do tecnobrega parece, então, estar ao alcance de qualquer um que tenha um programa de DJ. Depois é entrar no circuito comercial. Festas de aparelhagem na rua (o fenómeno vem até nos guias turísticos), armazéns de tecto de zinco, feiras populares, bares, salões de dança de terra batida. Apesar de o tecnobrega ser exclusivo do Pará, agarrando ainda um pouco as margens do estado do Amapá – com influências mais caribenhas -, é conhecido em todo o Brasil, sobretudo depois de a Banda Calypso, que inaugurou o modelo de negócio do tecnobrega livre de produtoras, ter aparecido no famoso “Domingão do Faustão” da Globo.

Particularidades: há aparelhagens instaladas nas malas de carros mais caras do que as viaturas; mais potentes e sofisticadas do que as casas pobres de madeira do Interior paraense (importante: volume máximo).

Sintonizar Tecnobrega em todo o Pará

Facto: o tecnobrega disseminou-se nos lugares mais remotos do estado: aquele rádio na mercearia mais distante nas margens do Amazonas; aquela aparelhagem numa casa flutuante no rio Negro. Depois, sentido Marabá-Ourilândia do Norte, Sudeste do Pará, de carrinha pública. Considerada terra “sem lei”, sob a constante forca dos conflitos de terra e impunidade. Nos bancos de trás, os passageiros (garimpeiros, sem–terra, gente à procura de outra vida) vão menos tristes ao som da rádio. As colunas de som estremecem. Alguns abanam o corpo. O motorista é fã de tecnobrega. A Banda Djavu, outra das mais famosos do Tecnobrega, fez um cover” da música “Colgado em tus manos” do venezuelano Carlos Baute, dueto com a espanhola Marta Sanchéz. “Te envio uma foto jantando em Veneza/E quando estivemos por Fortaleza/Sei que me recordo e tenho presente: meu coração está colado em tuas mãos/Cuidado, Cuidado”. É o sucesso. Alguém pede para aumentar o volume. Não dá mais. Já a seguir: “Anjos do Melody”, DJ Marlon Brando, Melody da canelada. Programa especial do tecnobrega do Pará.

Mais a norte: Outubro de 2009. Fim do dia. Um barco de linha Belém-Manaus recolhe âncora para seis dias de viagem, subindo o Amazonas. Por uma semana, a vida dos passageiros seria comer, dormir, dançar no bar da popa no navio, com cerveja na mão, e tecnobrega no corpo. Já noite, a melodia pareceria familiar. “Rise Up” do suíço Yves LaRock? “No Comando DJ 007: Gatinha, cê gosta mais de Red Label, ou Ice? [bis] Para mim tanto faz, ou Red Label ou Ice (bis) Ice, Ice, Ice, Ice, Ice, Ice, Ice…” Seria assim por sete dias. É assim todos os dias, com as novidades do tecnobrega (mais uma vez, não esquecer: volume no máximo).

MAIS: Galeria de FOTOS no Jornal I

Santana do Ituqui

Postado por Vanessa Rodriguesem 4 de Abril de 2010

Macunaíma

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Abril de 2010

macunaimahome1Aique!!!!

“Ai, que preguiça!”

Primeiro nasceu bicho-mudo, depois virou bicho-parasita-folgado; cresceu sendo preguiça-em-galho-de-carapanaúba, até se tornar cobra-malandra-espiando-gente, e depois jacaré-oportunista; veio a idade adulta e eis senão quando ele, Macunaíma, o herói (não-herói-anti-herói) criado pelo escritor brasileiro Mário de Andrade (1893-1945), em 1928, e parido bicho-feio no meio da selva amazónica, foi digno da glória escrota: tornou-se ermita-gente e safado-homem, sem carácter. Ahahah! Eis o herói do povo brasileiro; a pedra fundamental da cultura enraizada:  a da malandragem; a da covardia; a da impunidade. É isso! Nada, nada: não é nada disso. Não o leve a sério: Macunaíma é um brinquedo! É nacionalismo crítico! Um pouco de Tropicalismo recém-nascido, antes de sêlo – e que Joaquim Pedro de Andrade adaptaria para cinema em 1969, sob o pano da estética tropicalista. Não esquecer: “Macunaíma” é uma obra surrealista; é uma crítica ao Romantismo, resgatando temas da mitologia indígena, do folclore amazónico. É uma rapsódia! Lido de perto, parece que lhe ouvimos os bichos do meio do mato…


No fundo, foi isso que a Iara Rennó fez. Em 2008, a cantora brasileira (filha do pesquisador musical, músico e letrista Carlos Rennó e da cantora Alzira Espíndola) inspirou-se em Andrade para lançar “Macunaíma, Ópera Tupi”.

Iara Rennó 1

E fica aqui:

Excerto do livro “Macunaíma”

macunaimalivro

i macunaíma

“no fundo do mato-virgem nasceu macunaíma, herói de nossa gente. era preto retinto e filho do medo da noite. houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. essa criança é que chamaram de macunaíma. já na meninice fez coisas de sarapantar. de primeiro: passou mais de seis anos não falando. sio incitavam a falar exclamava: if — ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada.”] ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, maanape já velhinho e jiguê na força de homem. o divertimento dele era decepar cabeça de saúva. vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, macunaíma dandava pra ganhar vintém. e também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. no mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. nos machos guspia na cara. porém respeitava os velhos, e freqüentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. as mulheres se riam muito simpatizadas, falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta”, e numa pagelança rei nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.

nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e macunaíma principiou falando como todos. e pediu pra mãe que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. a mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. macunaíma choramingou dia inteiro. de noite continuou chorando. no outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que a mãe principiasse o trabalho. então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse ele no mato passear. a mãe não quis porque não podia largar o paneiro não. e pediu pra nora, companheira de jiguê que levasse o menino. a companheira de jiguê era bem moça e chamava sofará. foi se aproximando ressabiada porém desta vez macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. a moça carregou o piá nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. a água parará pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. o longe estava bonito com muitos biguás e biguatingas avoando na estrada do furo. a moça botou macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!… e pediu pra sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. andaram por lá muito.quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. era que o herói tinha brincado muito com ela. nem bem ela deitou macunaíma na rede, jiguê já chegava de pes-car de puçá e a companheira não trabalhara nada. jiguê enquizlou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. sofará agüentou a sova sem falar um isto.jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. não vê que encontrara rasto fresco de anta e queria pegar o bicho na armadilha. macunaíma pediu um pedaço de curauá pro mano porém jiguê falou que aquilo não era brinquedo de criança. macunaíma principiou chorando outra vez e a noite ficou bem difícil de passar pra todos.no outro dia jiguê levantou cedo pra fazer arma-ilha e enxergando o menino tristinho falou:— bom-dia, coraçãozinho dos outros.porém macunaíma fechou-se em copas carrancudo.

— não quer falar comigo, é?

— estou de mal.

— por causa?

então macunaíma pediu fibra de curauá. jiguê olhou pra ele com ódio e mandou a companheira arranjar fio pro menino, a moça fez. macunaíma agradeceu e foi pedir pro pai-de-terreiro que trançasse uma corda para ele e assoprasse bem nela fumaça de petum. quando tudo estava pronto macunaíma pediu pra mãe que deixasse o cachiri fermentando e levasse ele no mato passear. a velha não podia por causa do trabalho mas a companheira de jiguê mui sonsa falou pra sogra que “estava às ordens”. e foi no mato com o piá nas costas. quando o botou nos carurus e sororocas da serrapilheira, o pequeno foi crescendo foi crescendo e virou príncipe lindo. falou pra sofará esperar um bocadinho que já voltava pra brincarem e foi no bebedouro da anta armar um laço. nem bem voltaram do passeio, tardinha, jiguê já chegava também de prender a armadilha no rasto da anta. a companheira não trabalhara nada. jiguê ficou fulo e antes de catar os carrapatos bateu nela muito. mas sofará agüentou a coca com paciência.no outro dia a arraiada inda estava acabando de trepar nas árvores, macunaíma acordou todos, fazendo um bué medonho, que fossem! que fossem no bebedouro buscar a bicha que ele caçara!… porém ninguém não acreditou e todos principiaram o trabalho do dia.macunaíma ficou muito contrariado e pediu pra sofará que desse uma chegadinha no bebedouro só pra ver.

a moça fez e voltou falando pra todos que de fato estava no laço uma anta muito grande já morta. toda a tribo foi buscar a bicha, matutando na inteligência do curumim. quando jiguê chegou com a corda de curauá vazia, encontrou todos tratando da caça, ajudou. e quando foi pra repartir não deu nem um pedaço de carne pra macunaíma, só tripas. o herói jurou vingança.no outro dia pediu pra sofará que levasse ele passear e ficaram no mato até a bôca-da-noite. nem bem o menino tocou no folhiço e virou num príncipe fogoso. brincaram. depois de brincarem três feitas, correram mato fora fazendo festinhas um pro outro. depois das festinhas de cotucar, fizeram a das cócegas, depois se enterraram na areia, depois se queimaram com fogo de palha, isso foram muitas festinhas. macunaíma pegou num tronco de copaíba e se escondeu por detrás, da piranheira. quando sofará veio correndo, ele deu com o pau na cabeça dela. fez uma brecha que a moça caiu torcendo de riso aos pés dele. puxou-o por uma perna. macunaíma gemia de gosto se agarrando no tronco gigante. então a moça abocanhou o dedão do pé dele e engoliu. macunaíma chorando de alegria tatuou o corpo dela com o sangue do pé. depois retesou os músculos, se erguendo num trapézio de cipó e aos pulos atingiu num átimo o galho mais alto da piranheira. sofará trepava atrás.

o ramo fininho vergou oscilando com o peso do príncipe. quando a moça chegou também no tope eles brincaram outra vez balanceando no céu. depois de brincarem macunaíma quis fazer uma festa em sofará. dobrou o corpo todo na violência dum puxão mas não pôde continuar, galho quebrou e ambos despencaram aos emboléus até se esborracharem no chão. quando o herói voltou da sapituca procurou a moça em redor, não estava. ia se erguendo pra buscá-la porém do galho baixo em riba dele furou o silêncio o miado temível da suçuarana. o herói se estatelou de medo e fechou os olhos pra ser comido sem ver. então se escutou um risinho e macunaíma tomou com uma gusparada no peito, era a moça. macunaíma principiou atirando pedras nela e quando feria, sofará gritava de excitação tatuando o corpo dele em baixo com o sangue espirrado. afinal uma pedra lascou o canto da boca da moça e moeu três dentes. ela pulou do galho e juque! tombou sentada na barriga do herói que a envolveu com o corpo todo, uivando de prazer. e brincaram mais outra vez. já a estrela papacéia brilhava no céu quando a moça voltou parecendo muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. porém jiguê desconfiado seguira os dois no mato, enxergara a transformação e o resto. jiguê era muito bobo.

teve raiva. pegou num rabo-de-tatu e chegou-o com vontade na bunda do herói. o berreiro foi tão imenso que encurtou o tamanhão da noite e muitos pássaros caíram de susto no chão e se transformaram em pedra.quando jiguê não pôde mais surrar, macunaíma correu até a capoeira, mastigou raiz de cardeiro e voltou são. jiguê levou sofará pro pai dela e dormiu folgado na rede.”

Amazónia, deambular

Postado por Vanessa Rodriguesem 1 de Abril de 2010

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