Arquivo de Dezembro de 2009

Seca Amazonas

Postado por Vanessa Rodriguesem 13 de Dezembro de 2009

secamanausPublicado no DN, 13 Dez’ 2009

Por Vanessa Rodrigues, em Manaus

Depois das cheias que fustigaram o território em Junho deste ano, a seca chegou à região e anda a desequilibrar o ecossistema e a subsistência de famílias ribeirinhas. Mais velhos contam que há 60 anos que não se via nada assim.

Cheira a queimado, há fumo no ar e pequenas labaredas na mata. Para a nova colheita, a maioria dos agricultores da Amazónia lança fogo ao terreno para que o “roçado” volte a ser fértil. Planta-se mandioca, que este ano está com uma “praga” de minhocas devido à seca. A floresta, nas margens dos rios amazónicos, está árida e desgastada da exposição ao sol. A pouca humidade anda a preocupar os ambientalistas que falam em “grandes mudanças” no ecossistema da Amazónia.

O que se passa com a canoa de Saruê, como é conhecido Nelson Dalva na região, é um bom exemplo do que eles querem dizer. Enquanto atravessa o rio Ariaú, afluente do rio Negro, no estado do Amazonas, Brasil, peixes pequenos começam a saltar para dentro da canoa, em voos desordenados. Ele apressa-se a devolvê–los ao seu habitat. “Mesmo quem não sabe pescar, nesta época de seca, consegue apanhar peixe facilmente. Há muito!”, diz. Por outro lado, admite, “há cardumes a morrer”.

A rabeta (pequeno motor) quase encalha num banco de areia. As hélices rangem furiosas. A canoa segue à deriva até encontrar um nível de navegabilidade. Nas margens, a lama seca encobre-as e as raízes das árvores estão descobertas. Alguns troncos estão queimados pelo sol. Nos galhos das árvores há rastos de vegetação seca, que as cheias deixaram em Junho. As enchentes desalojaram centenas de famílias e trouxeram uma crise de abastecimento a Manaus, a metrópole que parece “engolida” pela selva.

Agora a seca rasga a Amazónia fluvial. Estão 37 graus. O corpo não pára de suar, como se quisesse mostrar que tem mais poros que aqueles que conhecemos. A garganta parece ter cactos a arranhar. E a tontura é companheira assídua. Não há chuva há cinco meses. “Nesta altura do ano, era suposto já estar a chover; e está este calor infernal”, diz Saruê. “A natureza está desequilibrada.”

O nível da água está “demasiado baixo”. Fala-se em seca “histórica”. Os mais velhos contam que “só nos anos 60″ houve um cenário semelhante. Ouve-se falar que há famílias ribeirinhas com falta de água”. Onde andam os fartos rios da Amazónia que dependem das chuvas para se encherem de farta correnteza?

No arquipélago fluvial das Anavilhanas, inabitado, a água desceu mais de 20 metros. Os canais fluviais, chamados de igarapés, estão secos. Em Iranduba, no outro lado da margem de Manaus, as cheias encobriram parte do mercado durante dois meses. Agora, a água desceu. As casas flutuantes, comuns nesta região, devido à grande alteração no nível das águas, assentam em terra firme. Na aldeia de Murutinga, a sul de Manaus, onde mora a comunidade indígena descendente dos Mura, o nível da água desceu 20 metros. Todos falam que “já devia ter subido”. “E este rio, o que se passa?”, questiona o Braga, que vive ali há 42 anos. “Quem o viu em Junho não o reconheceria. A paisagem é outra.”

Nessa altura, a água chegou até ao posto médico, no alto da aldeia e as enfermeiras encostavam o barco à porta de entrada. A casa fica, agora, no alto de uma falésia, como se alguém tivesse sugado toda a água e deixado um charco para disfarçar. Para o ecologista Carlos Durigán, presidente da Fundação Vitória Amazónica, a situação na região é “preocupante”. “A Amazónia é responsável pelo equilíbrio do clima mundial e está a sofrer muito com as mudanças climáticas”, diz. “Esta seca é a prova disso.”

Casas Flutuantes

Postado por Vanessa Rodriguesem 13 de Dezembro de 2009

casasflutuantesPublicado no DN, 13 de Dez’ 2009

Por Vanessa Rodrigues, em Manaus

Casas flutuantes são igrejas, bares, restaurantes.Famílias inteiras que mudam de lugar conforme o rio

Num primeiro olhar parecem casas comuns de madeira. Dessas abundantes que se vêem nas margens dos rios da Amazónia, em terra firme, pintadas de cores vivas, como se fossem de bonecas. Algumas são igrejas evangélicas; outras, bares e restaurantes, ou moradas itinerantes que abrigam famílias inteiras.

Muitas têm vasos pendurados, imagens de santos à porta, pequenas canoas aportadas junto à entrada, antenas parabólicas no exterior e crianças a saltar das plataformas para o rio.

Nas traseiras, às vezes, quando anoitece, há famílias a tomar banho, ou a preparar o peixe para o jantar. Lá dentro há apenas duas divisões e redes suspensas em vez de camas.

Dorme-se cedo, porque o breu é maior que a parca luz das velas, que tenta iluminar os gestos das gentes que essas casas guardam. Com sorte, e com algum dinheiro a mais, algumas famílias compram gasolina para o gerador. Para quem o tem, luxo é sinónimo de ver televisão. E aqui, a hora da telenovela é sagrada.

Quando os barcos passam perto e acelerados, os pés sentem uma vibração vinda do chão: é flutuante. Essas pequenas casas frágeis, que têm o rio como vizinho e estrada, embalam-se com a corrente.

É nessas casas de rio, flutuantes, que moram centenas de ribeirinhos da Amazónia. Eles mudam de lugar conforme o nível do rio sobe ou desce. Sobem os metros que forem necessários para ancorar até quando o rio deixar. E nunca sabem quando será.

Num primeiro olhar parecem casas comuns de madeira. Dessas abundantes que se vêem nas margens dos rios da Amazónia, em terra firme, pintadas de cores vivas, como se fossem de bonecas. Algumas são igrejas evangélicas; outras, bares e restaurantes, ou moradas itinerantes que abrigam famílias inteiras.

Muitas têm vasos pendurados, imagens de santos à porta, pequenas canoas aportadas junto à entrada, antenas parabólicas no exterior e crianças a saltar das plataformas para o rio.

Nas traseiras, às vezes, quando anoitece, há famílias a tomar banho, ou a preparar o peixe para o jantar. Lá dentro há apenas duas divisões e redes suspensas em vez de camas.

Dorme-se cedo, porque o breu é maior que a parca luz das velas, que tenta iluminar os gestos das gentes que essas casas guardam. Com sorte, e com algum dinheiro a mais, algumas famílias compram gasolina para o gerador. Para quem o tem, luxo é sinónimo de ver televisão. E aqui, a hora da telenovela é sagrada.

Quando os barcos passam perto e acelerados, os pés sentem uma vibração vinda do chão: é flutuante. Essas pequenas casas frágeis, que têm o rio como vizinho e estrada, embalam-se com a corrente.

É nessas casas de rio, flutuantes, que moram centenas de ribeirinhos da Amazónia. Eles mudam de lugar conforme o nível do rio sobe ou desce. Sobem os metros que forem necessários para ancorar até quando o rio deixar. E nunca sabem quando será.

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