Arquivo de Setembro de 2009

O Carimbó, Marapanim

Postado por Vanessa Rodriguesem 29 de Setembro de 2009

O nome, em língua indígena tupi, refere-se ao tambor (o carimbó) que marca o ritmo. São batidas que lembram o caribenho, mas também o folclore português, o gingado caboclo, a percussão afro, as melodias indígenas, as raízes musicais do Brasil. O carimbó é património imaterial, é sedução, pujança e escorrer de alma suada. E agora quer ser património imaterial do Brasil. Marapanim, a norte de Belém no Pará, reivindica a origem dessa musicalidade… O ritmo influenciou a lambada e o zouk. Sinais da Gente esteve lá e falou com o Grupo “Flor do Mangue”. Kayto explica o que é, afinal, o Carimbó, os ritmos e magia…

Seu nome, em tupi, refere-se ao tambor com o qual se marca o ritmo, o carimbó.

Nota de Sinais

Postado por Vanessa Rodriguesem 28 de Setembro de 2009

Devido ao espaço consagrado a cobrir as eleições legislativas em Portugal, esta semana o texto sobre a Amazónia não foi publicado no Diário de Notícias. Beijocas e abraços apertados. Até já…

Trabalho Escravo

Postado por Vanessa Rodriguesem 21 de Setembro de 2009

Libertação de escravos na fazenda Cabaceiras, em Marabá, no Pará. Vivem em condições miseráveis, dormem e tomam banho com os animais, comem ração estragada, bebem água contaminada, estão presos, não recebem salário porque estão sempre “em dívida” para com o “dono”.
Esta é uma dura realidade que ainda sai das entranhas de vários estados do Brasil. Na Amazónia, “terra sem lei” – que já ouvimos da boca de várias pessoas daqui, essa é ainda uma prática quotidiana. Só esta semana o Ministério do Trabalho libertou 11, numa fazenda dos arredores de Marabá.
O site “Repórter Brasil” tem feito um exemplar trabalho de investigação jornalística sobre esses e outros temas que contaminam e aprisionam a Amazónia.

Peixe abundava

Postado por Vanessa Rodriguesem 21 de Setembro de 2009

donarosaPublicado 20 de Set’ 2009

Começou a pescar aos nove, hoje tem 47 anos. E saudades de como era “antes”.

A Dona Rosa não mora aqui. Agora que recebe turistas na “casa da praia” a vida “melhorou”, conta ao DN enquanto grelha peixe. Ergueu-a com estacas acima da areia para aguentar a maré-alta, na Ilha da Romana. Ela tem 47 anos. Mora na vila de Abade, a uma hora de barco. Começou a pescar com o pai aos nove. Tem “saudades do tempo em que brincava com os irmãos” no barco do pai. E de quando a mãe lhe preparava o peixe. “Tive uma infância muito feliz. Fazia muitas malvadezas com as outras crianças”, diz Rosileine Saraiva, Rosa para os amigos. Pele queimada, corpo rijo, atlético, olhar de menina, mãos engrossadas pelas redes de peixe que puxou.

Hoje está lua cheia. “Está bom para pescar”. Não como dantes. “Antes, havia muito mais peixe. Há uma grande diferença. Lembro-me de ele saltitar na água.”

Rosa não é daqui, da ilha. É filha de Bragança, a norte de Belém, fundada no século XVII pelos portugueses. Tem quatro filhos. Não é a única pescadora da região, mas é das “poucas resistentes”.

Ilha da Romana

Postado por Vanessa Rodriguesem 21 de Setembro de 2009

ilhadaromana

Publicado 20 de Set’ 2009

A norte de Belém, onde o Amazonas entra  no Atlântico, a aposta  é no ecoturismo para preservar a natureza.

O cenário é apocalíptico. Um vazio interrompido por troncos de árvores, secas, enterradas na areia que parece farinha peneirada. Abutres, muitos, esvoaçam em bando. Não resta peixe na orla. Apenas espinhas emaranhadas em palha e restos que o mar de água cor de terra deixou no vasto areal plano. Há ondas calmas, que são já Amazónia Atlântica, aqui na Ilha da Romana, na Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá. Fica a norte de Belém, no Brasil. Lá, onde principia o Atlântico e o rio Amazonas deixa de o ser para ser mar. Ou onde começa, em fluxo inverso, antes de subir ao ventre, no Peru.

“Esta praia selvagem é ainda um paraíso”, diz Charles Mendes, guia do Instituto Tapiaim, projecto de ecoturismo de base comunitária que, em parceria com a Estação Gabiraba, empresa com mesmo propósito, e a ONG Peabiru ajudam a preservar o local levando alguns turistas à comunidade. Há poucas casas. São cabanas de pescadores. Ao longe só se vê um deserto de areia. No horizonte, uma imensidão de água. O sol intenso absorve o azul do céu, desafiando o fotómetro. 35 graus.

A sede não aguenta cinco minutos. A pele queima. Os missionários católicos, jesuítas que por aqui deixaram pegadas no século XVII há muito levadas pelo vento que de nada serve para amenizar o calor infernal, certamente fizeram penitência com as pesadas vestes sob tal temperatura. A localidade de Abade onde se instalaram, a uma hora de barco da Ilha da Romana, ainda ostenta a igreja que lhes serviu de casa para evangelizar “o povo da Amazónia”.

A norte-americana que acompanha Charles com um grupo de estudantes dos EUA não sabia quem eles eram, até ali. Aliás, ela pouco ouve o que o guia diz. Está entretida a apanhar as bolachas-do-mar, parentes dos ouriços, que se enterram na areia. Quando mortas desfazem-se na mão. As que ela apanhou estão vivas. Charles fica um pouco irritado quando descobre o copo de plástico cheio delas. Ela pensa que ele está a brincar. “Tens de as colocar de novo na areia. Isto é uma Reserva Ecológica, não podes levar nada daqui a não ser a memória”, diz-lhe. A miúda de cabelos pretos e pele vermelha, recém-queimada pelo sol, ruboriza ainda mais e concorda. Devolve-as, até porque, se não as perdesse quando se desfizessem, perdê-las-ia no mangue da ilha (ecossistema húmido tropical, característico do encontro do rio com o mar).

Aí, a luta entre enterrar as pernas num lamaçal pegajoso e retirar os pés sem perder os sapatos é um equilibrismo só para especialistas. A luta para sair do lugar cansa o corpo em segundos: o mesmo tempo que demora a equação da adrenalina igual a pânico, quando se atravessa os lençóis de areia da praia da Romana. As extensas poças que o mar deixa sugam os pés em areias movediças. “Quando isso acontece, o que temos a fazer é deitar-nos de costas, porque elas não se afundam e, com calma, desenterrar os pés”, ensina Charles.

Quanto à memória, a da Romana, não há nada a fazer, já se entranhou cá dentro, como areia pegajosa, apocalíptica.

De olho na Amazónia

Postado por Vanessa Rodriguesem 17 de Setembro de 2009

Imagens pela TV, Navegar Amazónia. Documentário realizado durante uma expedição do Projeto Parcelas Permanentes pelo Rio Solimões, à procura de novos medicamentos, com o médico Drauzio Varella a bordo.

Banho-de-cheiro, Amazónia

Postado por Vanessa Rodriguesem 17 de Setembro de 2009

pauloteles

Publicado do Diário de Notícias e 13 Set’ 2009

Leva, pelo menos, 30 ervas. Afasta mau-olhado. Atrai o amor, felicidade, purifica, cura.

“É para isso que serve o banho-de-cheiro”, assegura o erveiro (nome que se dá a quem trabalha com a colecta e preparação de plantas na Amazónia) Paulo Teles, morador em Boa Vista do Acará, referindo-se ao tradicional banho de ervas do Pará. Ele que é um dos últimos erveiros genuínos da região.

Paulo diz ao DN que já perdeu há muito a conta aos anos que trabalha com estas ervas. Recolhe-as meticulosamente na mata, prepara-as e vende-as depois no Mercado Ver-o-Peso, em Belém. Garante que já curou “algumas pessoas” com elas.

Patcholi, pau-de-angola, sementes de cumaru, raízes de priprioca, sândalo, cedro.

“Demasiadas ervas para me lembrar”, suspira.

Antes do São João, o Pará enche-se do hábito, só que “nos últimos anos tornou-se “moda”, diz. Ele já não se lembra da última vez que tomou um, “nem há segredos na mistura das ervas”.

É só “recolhê-las, juntá-las à água, misturar e triturá-las com as mãos para abrir os aromas”, descreve o erveiro.

Posteriormente a água come- ça a ganhar um cheiro intenso, cor acastanhada, e, quando escor- re pelo corpo, o cheiro vai-se en- tranhando.

Fica assim durante dias. “E leva com ele todos os problemas”, assegura Paulo Teles, dono e senhor dos segredos das ervas que atraem o amor e podem até, segundo reza a tradição, curar alguns males mais persistentes. Do corpo e da alma.

Açaí e mandioca são dois tesouros do Pará

Postado por Vanessa Rodriguesem 16 de Setembro de 2009

boavistacara1

Publicado no Diário de Notícias a 13 de Set’ 2009

O açaí chega às cinco da manhã. Sai dos barcos, em cestas, arrastado a dezenas de mãos e corpos nus antes do amanhecer. Às nove horas já só restam duas que carregam esses pequenos bagos de fruta cor-de-beringela, no Porto da Palha, em Belém, no Brasil. Há folhas de palmeira espalhadas pela madeira do pontão. E resta um cheiro a suor dos corpos que carregaram centenas de produtos regionais. É neste porto, escondido nos arredores da cidade, que “a maioria das famílias das ilhas da região vem vender farinha de mandioca e, sobretudo, açaí, um dos principais alimentos de Belém”, conta ao DN Ana Gabriela Fontoura da Estação Gabiraba, empresa local dedicada ao Ecoturismo de base comunitária. “É um dos mais importantes, mas está um pouco degradado, sobretudo porque quem o domina são grandes empresas locais.”

O caboclo ainda tenta vender o último cesto de açaí que no Pará se come com farinha e peixe, ao contrário do resto do Brasil que o consome doce: uma “heresia” para os paraenses.

Já se desamarram cordas dos barcos. O mundo “ribeirinho” que atraca aqui de madrugada está de regresso a casa. Alguns para Boa Vista do Acará, uma comunidade do município com o mesmo nome a sudoeste de Belém. Este ano a Estação Gabiraba fez uma parceria com a Associação de Produtores locais: levam um pequeno grupo de turistas que querem conhecer o modo de vida das comunidades; as famílias dão-lhes o que a terra tem de melhor: saberes, tradições e gastronomia com temperos amazónicos. Segundo Ana Gabriela, o método “ajuda na renda familiar” e a “preservar o modo de vida tradicional. “Mudar os hábitos das populações em nome do que se acha ser desenvolvimento, não é a solução dos povos da Amazónia. Senão, um dia, quando se visitar as comunidades, elas vão dizer: antes fazia farinha, hoje vivo do turismo”.

Para passarmos para o barco que vai para Boa Vista é preciso atravessar outro, sentir o balanço da água, e saltar, para um novo desequilíbrio flutuante. Depois, solta-se a corda e o barco desliza pelas margens do rio Guamá, onde escoa a foz da bacia, banhando a cidade ao sul. A comunidade de Boa Vista do Acará está a uma hora de tolerância do barulho do motor “pó-pó-pó”, como se chama a este tipo de barcos, lentos, na gíria local. São o principal transporte de quem aqui mora.

Entra-se no canal principal. Há casas com tábuas de madeira nas margens, igarapés (canais estreitos), canoas, crianças a tomar banho na água cor-de-terra. Já a farinha de mandioca que Luísa Vilhena, 56 anos, amassa com as mãos na Casa de Farinha em Boa Vista do Acará é branco-cru. Mas a melhor mandioca para fazer o tucupi, o tempero principal da gastronomia do Pará, feito da raiz dela, “é a amarela”. Luísa corta-a, rala-a, põe-na na água para “pubar” – amolecer – durante uns dias, amassa a que já amoleceu com as mãos calejadas de vida e coloca-a num tipiti – instrumento tecido com talas de arumã, uma espécie de palmeira – para escoar a água. Minutos depois retira-a. Peneira-a e atira-a para o forno artesanal, a lenha, que o Valdomiro, o marido, está a misturar com uma espátula de dois metros para a cozer. Sacode-a no ar. Uma hora depois está pronta para comer. “É uma vida de muito sacrifício, todas as semanas. E a mandioca tem um tempo próprio. Às vezes levantamo-nos à uma da manhã para a preparar e levar para vender no mercado.”

Hoje, a comunidade de Boa Vista do Acará, além da farinha, completa a renda com jóias de sementes locais, frutas, ervas da floresta e a plantação de priprioca. A associação da comunidade dá uma ajuda na gestão, para ajudar a preservar “os tesouros do Pará”.

Sinais da Gente no De Fato

Postado por Vanessa Rodriguesem 11 de Setembro de 2009

sinaisdagenteOs Sinais da Gente foram falados no Jornal Diário de Itabira e no Jornal De Fato pelo Cleber Camargo…

Para ler aqui..

Tarântulas, duas luas e priprioca de Cotijuba

Postado por Vanessa Rodriguesem 8 de Setembro de 2009

cotijuba

Publicado no Diário de Notícias a 6 Set 2009

Delso insiste que não. Aquele bicho preto peludo do tamanho da mão de uma criança não é uma tarântula. “É uma aranha comum aqui da ilha de Cotijuba e a picada dela dá comichão.” O problema é que por onde ela passa “deixa um rasto que provoca uma alergia que se espalha pelo corpo”, explica melhor Delso Conceição, que nasceu na ilha, a 50 minutos de barco de Belém, no Brasil. O miúdo de pele morena, que espreitava pela janela, também não se incomodou quando a grande aranha começou a trepar as paredes de madeira da casa onde mora. Ficou a contemplá-la como um brinquedo.

“Pior do que a picada dela”, lembra Delso, “seria a de uma cobra”. “Precisaríamos de um antídoto, poucos minutos depois. Começamos a sentir sede, mas não podemos beber água, senão su- focamos.” Se isso acontecesse “não teríamos tempo”, por isso, “é melhor olhar bem por onde pisamos”. No meio de uma floresta densa como esta, a da ilha de Cotijuba – que em tupi, língua indígena, significa trilha dourada – com vegetação alta, ramos indisciplinados, folhas e lama secas, por onde o rio Guamá, ao fim da tarde, a vem humedecer, o exercício é apenas feito com destreza por quem lhe conhece os segredos.

Não para quem pisa, por aqui, pela primeira vez.

Dona Célia Silva ri-se do episódio. É ela que vai emprestar a rede para dormir. Diz que, nessa noite, haverá duas luas. E só ela as conseguiu ver, enquanto os hóspedes da casa dormiam na rede. “Eram duas bolas cor-de-laranja forte no céu”, conta. E agora quer provar que, afinal, a aranha peluda que parece “tarântula” é “tão inofensiva” que ela até toma conta de uma, “que se esconde no telhado da casa há anos”.

Célia, 59 anos, é uma das mulheres associadas ao Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (MMIB). “Desde que a associação foi formada criaram-se várias oportunidades de renda complementar para a comunidade”, diz, contando que graças ao MMIB sabe, hoje, “fazer sabão, água sanitária, aproveitar sementes e desidratar folhas” para fazer biojóias, bijutaria de produtos da natureza.

“Nós temos toda a matéria-prima e precisamos saber a utilizá-la. Há ilhas à volta que não têm a oportunidade que estamos a ter”, diz. O MMIB tem o apoio do Instituto Peabiru, ONG voltada para a biodiversidade que, além dos cursos, ajuda na realização de projectos sócio-educativos; e da empresa de cosméticos Natura, que recebe anualmente da comunidade a priprioca, planta aromática típica da Amazónia.

Segundo Adriana Gomes, coordenadora administrativa do MMIB, “o cultivo da priprioca é uma importante renda complementar de algumas famílias da comunidade e que veio valorizar o trabalho de extracção sustentável”.

Depois fala em “emancipação”. É que através das “actividades do MMIB”, como de empreendedorismo, e cursos de novas tecnologias, pelo projecto “Oi, Guia-me Belém”, já conseguiram “capacitar várias pessoas” da comunidade. “Isso ajudou-nos muito, diminuindo as diferenças em relação às oportunidades de uma grande cidade. Há até algumas mulheres que se valorizaram mais, percebendo que podiam ter uma actividade profissional”, além da de doméstica, “pois a comunidade é, ainda, muito machista”, diz Adriana Gomes.

Fugido de Portugal fez outra família na ilha

Postado por Vanessa Rodriguesem 6 de Setembro de 2009

cotijuba01Publicado do Diário de Notícias a 6 de Set 2009

O bilhete de barco em papel fino, velho, rasgado e gasto, ainda deixa ler que o avô do Tiago, Patrício Gonçalves, chegou a Belém desde Lisboa, em Janeiro de 1929. “O meu pai fala pouco dele, por isso foi através da minha mãe que soube que veio fugido de Portugal: abandonou a mulher lá, e fez outra família aqui na ilha de Cotijuba.” Tiago Gonçalves, 26 anos, é “mototáxi” na ilha, nos arredores de Belém, uma actividade comum nos homens dali e um dos meios de transporte mais utilizados. A actividade dá-lhe uma ajuda nas contas da casa, enquanto não é “chamado para trabalhar como torneiro mecânico”, a sua profissão “oficial”.

Segundo Tiago, o avô trabalhou nos transportes em Belém. Mostra-o nos documentos dele que guarda, amontoados, e a desfazerem-se num saco plástico. “Depois, ele veio para a ilha e ficou por aqui até morrer.”

A fotografia a preto e branco tipo passe, deslavada, do avô e que mexe com as mãos, deixa ver uma figura magra, de bigode. “Ele trabalhava como agricultor em Portugal, conforme mostra esta carta”, aponta. O documento data de 1931, é da 1.ª Vara da Comarca de Lisboa e representa a mulher que Patrício Gonçalves deixou em Lisboa, Madalena Ferreira da Silva.

O documento descreve que dessa união “não há filhos” e que, “após o casamento”, Patrício Gonçalves terá abandonado o lar, ausentando-se, “ao que se supõe, para o Brasil, nunca mais dando notícias à requerente”. Tiago pergunta quanto custa um bilhete de avião para Portugal. Acha caro. Mas diz que “um dia há-de ir a Lisboa saber se tem parentes”.

Amazónia profunda, por Jorge Bodanzky

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Setembro de 2009


“No meio do rio, entre as árvores”, longa-metragem de Jorge Bodanzky. 50 horas editadas de cenas de viagens pela Amazónia profunda, registadas por Bodanzky e equipa durante vários anos, a bordo do projecto “TV, Navegar Amazónia”.

Culinária da Amazónia, influência indígena

Postado por Vanessa Rodriguesem 3 de Setembro de 2009

sinaisdagente

Tacacá, tapioca, cupuaçu, buriti, muriti, bacaba, tucupi, maniçoba, jambu, pimenta de cheiro, pirarucu. Assim lidas de um fôlego só, as palavras parecem demasiado estranhas aos ouvidos, aos olhos e ao paladar. Depois entranham-se. São ingredientes de uma rica e antiga culinária com influência indígena: a paraense, a amazónica, que vai ainda buscar influências ao rio e às ervas. Quem circula pelo mercado Ver-o-Peso, em Belém, no Brasil, consegue ver e sentir a riqueza desta variedade gastronómica. Frutas, legumes, temperos, farinhas, peixes, carnes; saberes.

Há sacos de tapioca a transbordar, frutos coloridos a abarrotar as barracas de madeira, garrafas de litro com líquido amarelo, castanho; saquinhos com pós vermelhos.

Um desses líquidos “estranhos”, com rolhas feitas de espigas de milho, cujas reentrâncias permitem controlar as pingas que caem no prato, é o tucupi: um caldo feito do líquido da mandioca amarela, que se obtém a partir da fermentação do sumo e é usado em vários pratos, como por exemplo para “temperar” o pato, mas “também a galinha e o porco”, explica Luísa Vilhena, 56 anos e moradora em Boa Vista do Acará, a 50 minutos de barco de Belém.

A maioria dos lotes de tucupi que servem a cidade de Belém e, por isso, a gastronomia da região, vêm de comunidades insulares dos arredores.

Já o tacacá é um tucupi que leva mandioca cozida, camarão e jambu – uma espécie de folha que provoca um ligeiro adormecimento da língua, com sensação de frescura – temperado com a pimenta-de-cheiro. Por si, o tacacá, enquanto caldo encorpado é capaz de substituir uma refeição. Há quem o use como bebida, também.

A variedade de peixes, marcada pela diversidade de grandes rios, como o Amazonas, o maior do mundo, onde vivem mais de duas mil espécies, é uma fonte de inspiração para o cardápio. Caldeirada de tambaqui, tucunaré e pirarucu, chamado de “bacalhau brasileiro” – devido à técnica de salgar o peixe, igual à do bacalhau – são apenas parte de uma lista infindável. O Pirarucu, por exemplo, chega a pesar 100 quilos e a medir dois metros de comprimento, com uma carne branca e macia, comida grelhada, desfiada ou cozida.

Depois, vários pratos da Amazónia são acompanhadas por pirão – massa de farinha de mandioca cozida num caldo de peixe, ou no tucupi.

As frutas da Amazónia têm também uma personalidade especial, muitas das quais são até desconhecidas noutras regiões do Brasil.

Por exemplo:

Bacuri – metade flor e metade fruto, no início do século passado foi adoptado pelo barão do Rio Branco, famoso diplomata brasileiro, como sobremesa dos grandes banquetes oficiais do Palácio Itamaraty. Ele deve ser colhido e comido em 24 horas, pois perde o frescor da polpa, azeda e apodrece.  É possível comê-lo fresco, mas pode ser servido como doce em calda, como gelado, cremes e pudins.

Piquiá - oleoso, o piquiá costuma ser cozido para comer no intervalo das refeições, mas muita gente faz dele refeição.  Do piquiá também se faz o licor de piqui, uma bebida considerada fina;

Açaí – é o fruto mais famoso, consumido e conhecido da Amazónia. O Açaí é um pequenos bagos, altamente perecível, colhido em pequenas palmeiras pelos peconheiros que colocam a peconha nos pés (pequenos tecidos que os une) para subir pelos finos troncos e retirar os frutos, quer seja abanando-os, que seja arrancando de uma vez só os galhos fortes. O Pará e o Amapá são os estados onde há maior produção da fruta.  Ali, é costume consumir a pasta do açaí, que tem um gosto levemente ácido, com peixe, arroz, e outros pratos quentes nas refeições. Já fora da Amazónia, essa fruta rica em nutrientes e calorias, costuma ser servida como uma sobremesa, misturada com banana e cereais.  Hoje, o açaí pode ser encontrado em cidades de todo o Brasil, e tem fama mundial, sendo exportado para vários países, como a França e os Estados Unidos.

Pupunha – espécie de coquinho verde, bastante oleoso, que é fervido com sal para ficar vermelho ou amarelo.  Costuma-se servir a pupunha salgada, mas também pode ser adoçada, para ser servida como sobremesa.

Castanha-do-pará – Também conhecida como castanha-do-Brasil, ela pode ser comida ao natural ou ser usada em bolos, bombons e doces.  Produto típico da região, essa oleaginosa é exportada para o mundo inteiro.

Receitas típicas do Pará

1. Pato no Tucupi

ingredientes

2 litros de tucupi
3 dentes de alho espremidos
2 maços de folhas de jambu
1 cebola picada
1 pato limpo cortado em pedaços
Sal e pimenta-do-reino a gosto

Preparação
Tempere o pato com o alho, a cebola, sal e pimenta-do-reino. Aqueça o forno em temperatura média. Coloque o pato numa as sadeira com um pouco de óleo e leve ao forno até dourar. Numa panela, coloque o tucupi e os pedaços de pato assado. Leve ao fogo alto até ferver. Abaixe o fogo e cozinhe até ficar macio. Acrescente mais tucupi, se necessário. Junte as folhas de jambu e cozinhe até que os talos fiquem macios. Sirva com farinha de mandioca.

2. Maniçoba

ingredientes

3 kg de maniva moída (folha da mandioca-brava)
1/2 kg de toucinho
1/2 kg de carne-seca
1/2 kg de lingüiça portuguesa
1/2 kg de paio
1/2 kg de lombo de porco
1/2 kg de orelha de porco
1/2 kg de rabo de porco
Alho e pimenta-de-cheiro a gosto

Preparação

Comece quatro dias antes de servir. No primeiro dia, coloque a maniva moída numa panela grande com bastante água pela manhã e deixe ferver até anoitecer, em fogo brando, sem deixar a água secar.
No segundo dia, acrescente o toucinho e deixe ferver novamente pelo dia inteiro.
No terceiro dia, escalde todas as carnes e coloque-as na panela da maniva. Ferva de novo pelo dia inteiro, mexendo às vezes.
No quarto dia, acrescente o alho espremido e a pimenta. Deixe ferver por mais 6 horas, mexendo às vezes.
Sirva com arroz branco e farinha de mandioca.

3. Bolo de Tapioca

ingredientes

½ quilo de massa para tapioca
1 coco grande ralado
2 ½ xícaras de açúcar
1 litro leite
1 lata leite condensado

Preparação

Enquanto o leite ferve, os outros ingredientes devem ser misturados um recipiente. Depois, é só dissolvê-los no leite e colocar a mistura numa forma untada com um pouco de leite condensado e côco. O diferencial desta receita é que a partir deste momento é só esperar esfriar e desenformar.

4. Pudim de Açaí

ingredientes

1 xícara(s) (chá) de açúcar

1/2 xícara(s) (chá) de água Pudim

1 lata(s) de leite condensado

250 gr de açaí

4 unidade(s) de ovo

1 colher(es) (chá) de suco de limão

Preparação

Numa panela de fundo largo, coloque o açúcar. Leve ao fogo baixo, deixando derreter suavemente. Quando estiver bem dourado, junte a água a ferver e mexa com uma colher de pau. Deixe ferver até dissolver os torrões de açúcar. Forre uma forma com furo central (19 cm de diâmetro) com esta calda.

Numa tigela ou no liquidificador, misture o leite condensado, o açaí e os ovos até que a mistura fique homogénea. Não há necessidade de bater muito.
Despeje na forma caramelizada. Cubra-a com papel de alumínio e coloque em banho-maria, em forno médio (180ºC), por cerca de 1 hora e 30 minutos.
Depois de frio, leve ao congelador por 6 horas. Desenforma e sirva.

Saiba como se faz o bolo que nem precisa ir ao forno.
INGREDIENTES:
½ quilo de massa para tapioca
1 coco grande ralado
2 ½ xícaras de açúcar
1 litro leite
1 lata leite condensado

MODO DE PREPARO:
Enquanto o leite ferve, os outros ingredientes devem ser misturados em um recipiente. Depois, é só dissolvê-los no leite e colocar a mistura em uma forma untada com um pouco de leite condensado e coco. O diferencial desta receita é que a partir deste momento é só esperar esfriar e desinformar.

mapas

Postado por Vanessa Rodriguesem 1 de Setembro de 2009

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