Garimpo e ilusão

Postado por Vanessa Rodrigues em 12 de Novembro de 2009

Publicado DN, 1 Nov’ 2009

Agostinho não quer dizer o último nome, nem ser fotografado. Diz que toda a gente o conhece por “Agostinho do táxi”. E garante que foi “o primeiro” a formalizar a profissão na Ourilândia do Norte”, no Sudeste do Pará, no Brasil, após ter acabado o garimpo de ouro na região. Hoje só grandes empresas extraem níquel ali, acredita-se.

Agostinho só tem um carro para fazer o serviço. E em terra de miséria e de sete autocarros diários, quem o tem “é rei”, diz. Cobra 50 reais (18 euros) para fazer dois km.

O carro cheira a mijo, os bancos colam à roupa, as borrachas com camadas de pó. É noite, o resto não vemos. Ele diz que Ourilândia tem “muitas histórias”. A dele é “simples”: nasceu em São Luís do Maranhão, foi garimpeiro, “usava mercúrio para separar o ouro” e nunca quis voltar à terra. “Habituei-me aqui.” Não esconde que é uma “terra miserável”. Para ele, “melhor que no Maranhão, melhor que nada”. “Nada” foi o que herdou dos tempos de garimpeiro. “É uma ilusão. Mata-se por pouco. Pode encontrar-se muito ouro num dia, mas é uma pedra envenenada. Gasta-se rápido”, lembra. Houve “alguns” que até “enriqueceram”: “O dono de um grande motel aqui na Ourilândia achou 600 gramas de ouro. Gastou tudo e só não perdeu o motel porque estava em nome da mãe.” No fim da viagem, entrega um cartão de visitas: “Agostinho do táxi, pioneiro.”

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