Fugido de Portugal fez outra família na ilha

Postado por Vanessa Rodrigues em 6 de Setembro de 2009

cotijuba01Publicado do Diário de Notícias a 6 de Set 2009

O bilhete de barco em papel fino, velho, rasgado e gasto, ainda deixa ler que o avô do Tiago, Patrício Gonçalves, chegou a Belém desde Lisboa, em Janeiro de 1929. “O meu pai fala pouco dele, por isso foi através da minha mãe que soube que veio fugido de Portugal: abandonou a mulher lá, e fez outra família aqui na ilha de Cotijuba.” Tiago Gonçalves, 26 anos, é “mototáxi” na ilha, nos arredores de Belém, uma actividade comum nos homens dali e um dos meios de transporte mais utilizados. A actividade dá-lhe uma ajuda nas contas da casa, enquanto não é “chamado para trabalhar como torneiro mecânico”, a sua profissão “oficial”.

Segundo Tiago, o avô trabalhou nos transportes em Belém. Mostra-o nos documentos dele que guarda, amontoados, e a desfazerem-se num saco plástico. “Depois, ele veio para a ilha e ficou por aqui até morrer.”

A fotografia a preto e branco tipo passe, deslavada, do avô e que mexe com as mãos, deixa ver uma figura magra, de bigode. “Ele trabalhava como agricultor em Portugal, conforme mostra esta carta”, aponta. O documento data de 1931, é da 1.ª Vara da Comarca de Lisboa e representa a mulher que Patrício Gonçalves deixou em Lisboa, Madalena Ferreira da Silva.

O documento descreve que dessa união “não há filhos” e que, “após o casamento”, Patrício Gonçalves terá abandonado o lar, ausentando-se, “ao que se supõe, para o Brasil, nunca mais dando notícias à requerente”. Tiago pergunta quanto custa um bilhete de avião para Portugal. Acha caro. Mas diz que “um dia há-de ir a Lisboa saber se tem parentes”.

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