Foi também por este filme que a curiosidade de saber que Amazónia é esta se foi aguçando. Depois conheci o Jorge Bodanzky (realizador do filme) e a Márcia Bodanzky que além das descrições e das histórias sobre a Amazónia que galgaram, também com o projecto “TV Navegar Amazónia”, desafiaram-me a esquecer os vícios do olhar urbano para ver mais perto. Algo tão óbvio, mas um exercício lento e difícil. Ainda estou a processar em câmara lenta.
Este filme, “Iracema, uma transa amazónica” (o trocadilho propositado refere-se ao movimento de prostitutas, camionistas e o logro em que se tornou a estrada Transamazónica) foi rodado em 1976, em plena ditadura brasileira, a convite de uma cadeia de televisão alemã, sobre o impacto dessa “castradora” Transamazónica – Belém-Brasília: os problemas de desmatamento, grilagem de terras, prostituição infantil, exploração sexual, miséria, descaso, corrupção. Bodanzky, junto com Orlando Senna, filmou com um elenco reduzido uma espécie de “doc-ficção” – de improviso – em poucas semanas, trilhando desde Belém a estrada que rasga parte da Amazónia brasileira.
O filme só passou no circuito comercial, no Brasil, em 1981, já que na época foi censurado pelo regime, por ser contra a propaganda oficial da importância da Transamazónica. Hoje, “Iracema” é considerado um filme de culto do cinema documental. E, bem vistas as coisas: muito pouco mudou desde então.

Comente