Biopirataria

Postado por Vanessa Rodrigues em 30 de Agosto de 2009


santarosa

Publicado no Diário de Notícias, 30 de Agosto 2009

Dona Ambrósia sabe tudo sobre as plantas medicinais do mato. Tem 99 anos. Só foi ao médico pela primeira vez há duas semanas: doía-lhe o peito.

Dona Ambrósia foi pela primeira vez ao médico há duas semanas. Mora na Ilha da Santa Rosa, em Ananindeua, cidade no estado do Pará, norte do Brasil. Sentiu uma dor no peito e estranhou.

“A minha filha achou melhor ir ao doutor ver o que era, porque na minha idade ela não quer correr o risco de esperar pelo remédio aqui do mato.”

Esta mulher de traços magros, vividos, 99 anos, conhece todas as plantas da comunidade. “Se tenho dor de estômago vou colher uma unha-de-gato ou o puxuri e preparo-as. Problemas de pulmão trato com leite de amapá. E a barba de paca é boa quando há sangue na urina.” Já a “casca de cajuí”, conta, “é boa para acabar com as úlceras”. E o chá de camembeca combate a diarreia, dores no fígado e hemorróidas.

“Mas só as pessoas mais idosas conhecem bem as plantas”, conta Gilberto Sousa da comunidade Igarapé Grande, vizinho da Ilha de Santa Rosa, lamentando que esses saberes se estão a perder na região.

“Às vezes apareciam aqui algumas pessoas interessadas em conhecer as plantas. Elas conheciam-nas bem, até melhor do que eu, e arrancavam algumas para levar. Só depois começámos a perceber que estavam a roubar os nossos remédios”, denuncia Gilberto.

Biopirataria? “Na maioria dos casos sim”, explica Filipe Bastos da secretaria de meio ambiente de Ananindeua. “Noutras situações é para pesquisa, mas a biopirataria ainda é um grande problema na Amazónia”, esclarece Gilberto Sousa.

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